Li O Pequeno Príncipe recentemente, você
pode ler meu review aqui: http://speakcinema.blogspot.com.br/2015/07/mli2015-o-pequeno-pincipe.html e fiquei apaixonada pela simplicidade
das palavras misturadas a complexidade da mensagem do livro. O filme traz todos
os ensinamentos do livro e ainda ensina mais um pouquinho. Uma garotinha está
prestes a entrar numa escola super conceituada e sua mãe traça um plano para
que ela entre. Um plano tão disciplinado que faz a menina estudar extremamente.
O foco é tanto que não sobra tempo para coisas de criança e nem amigos. Até que
ela se muda e conhece seu vizinho, um velhinho atrapalhado que tenta fazer
amizade com a menina. Ela reluta no começo, mas depois sede.
A amizade do velhinho aviador e da
menina é um verdadeiro contraste de idade. Ela se comporta como adulta, ela é a
cópia da mãe, uma mulher tão fria e controladora que faz a filha ser como ela,
retratando cenas absurdas como a de quando o aviador faz um buraco na parede
delas e a menina já tem tudo sobre controle. Ligou para o seguro e bla bla bla,
resolveu o problema como gente grande, da forma que a mãe ensinou. Qual criança
pensaria nisso? Eu na situação dela me esconderia num canto e quando minha mãe
me achasse falaria: não fui eu! O velhinho é o contrário, ele é louco e faz o
que dá na telha. Tem um avião no quintal, dirige sem carteira e acumula velharia
em casa. Tão diferente daquele aviador que conhecemos no livro. Um homem sério
e incrédulo... sei que o pequeno príncipe o cativou na juventude, mas isso não
implica na mudança de personalidade. Basicamente ele é a criança, divertida,
brincalhona e sonhadora e ela é a adulta que faz inúmeras perguntas e é
incrédula quanto a história do príncipe que lhe é contada.
Só depois que o aviador cativa a menina
que ela começa a ser criança novamente e age como deveria agir. O ponto alto do
filme foi as reações dela ao conhecer a história do príncipe. Ao conhecer seu
planeta, sua rosa, sua amiga raposa e tudo mais. É como nós quando lemos pela
primeira vez a obra. Ao assistir o filme ficamos ansiosos por cada momento em
que se retrata o livro, onde a animação moderna é substituída pela técnica stop
motion nos escuros tons de amarelo do sol, no colorido das roupas do príncipe,
do pelo da raposa, na grama verdinha e tantos outros detalhes tão ricos e
agradáveis aos olhos. Diferente do cinza e preto da cidade e das roupas de mãe
e filha.
As partes em que se narra o livro são
incrivelmente fieis ao mesmo. É claro que faltam alguns personagens, mas
ninguém muito importante, os principais estão ali, retornando para o público. A
raposa como era de se imaginar é mais “cativante” (oown) e é com ela que desce
as primeiras lagrimas. A rosa não é tão onipresente quanto no livro, mas a
passagem mais bonita do livro que envolve ela é retratada com muita beleza.
“Ela é a sua rosa...” lembram?
Na
metade para o final há uma reviravolta que pode não agradar a todos. A menina e
a pequena raposa de brinquedo são inseridas num novo cenário, como se fosse a
vida atual dos personagens do livro e de como até o pequeno príncipe que antes
parecia incorruptível, nesse universo utópico e paralelo vira outra pessoa. [spoiler]
ele cresce e perde todas suas lembranças da infância, ele é um jovem
fracassado, que vive sendo demitido e dá duro para continuar num emprego ruim
(assim como tantos hoje em dia) também tem que lidar com as figuras autoritárias
de seu passado que agora estão mais fortes e presentes. Essa ideia é meio
frustrante de início. É tão triste ver um personagem tão idealizado sendo
corrompido desse jeito, por um momento aquela esperança adquirida no começo do
filme se esvaíra. Um banho de agua fria nos traz de volta a triste realidade
que vivemos. E aí se aplica a frase “o problema não é crescer, é esquecer”, mas
aí a esperança se reacende numa cena incrivelmente linda da retomada do tão
amado príncipe na figura da criança que tanto amamos.
Além dos ensinamentos próprios do livro
o filme traz seus pensamentos e critica vários fatores da sociedade moderna. A
figura do idoso abandonado, da mãe autoritária que pressiona a filha, o jovem
no mercado de trabalho em crise e o crescimento acelerado infantil tão
característico dessa geração. Crianças que perdem a infância tentando ser
adultas e quando chegam a fase adulta tentam compensar essa perda agindo de
forma infantil e inconsequente frente aos problemas da vida e situações
cotidianas. Essas crianças que começam a namorar muito cedo, iniciam a vida
sexual sem conhecimento algum, querem agir como donos dos próprios narizes
saindo e desobedecendo os pais e fazendo uso da tecnologia tão precocemente. O
mundo seria tão melhor se nas mãos das mesmas tivessem um livro ao invés de um
tablet ou iPhone, seria tão bom se elas saíssem do facebook e fossem ler O
pequeno príncipe e com esse menino tão adorável aprendessem que as coisas
essenciais da vida além de serem invisíveis aos olhos fazem bem ao coração.
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