Foi-se
o tempo em que filmes sobre invasões alienígenas eram feitos para agradar
aqueles que gostam de ação. Filmes com explosões gigantescas, seres
horripilantes que querem devastar a terra e tiro para tudo quanto é lado. Agora
os filmes estão mais contemplativos. Assim como alguns filmes de heróis os
filmes de invasão alienígenas estão mais preocupados em passar uma mensagem e
debater algum assunto. A chegada pode parecer um romance clichê disfarçado,
protagonizado por uma mãe sofredora, mas ele consegue ser muito além disso e o
melhor ele fala a nossa língua e prova que a reciprocidade é universal.
Em
A chegada seres extraterrestres chegam a terra divididos em 12 naves que pousam
em 12 lugares diferentes na Terra. Para saber o propósito deles as autoridades
americanas chamam a Dra Luise Banks, uma linguista, para fazer contato com
eles.
A
direção é de Denis Villeneuve que dirigiu Sicario e o Homem Duplicado. Esse
ultimo um filme bem complexo, do jeitinho que ele e Jake Gyllenhaall (que o
protagoniza) gostam. Dá para perceber que Denis é visionário e gosta de
trabalhos desafiadores. Aqui ele coloca uma mulher como centro de tudo, ele já
admitiu que gosta de ter mulheres como suas protagonistas e suas protagonistas
são muito bem resolvidas, assim como a Dra Luise.
O
filme mistura duas linhas do tempo, a do “passado” e a do “futuro” se você já
assistiu sabe o motivo das aspas e começa mostrando um momento muito infeliz da
personagem, uma perda familiar. E durante todo o filme sentimos o quanto essa
perda mexe com ela, mesmo que ela não diga, mesmo que só saibamos disso pelos
“flashbacks” mostrados. O filme é confuso nessa questão do tempo pois mesmo
antes dessa perda irreparável sentimos que a personagem não é feliz, há algo de
errado com ela, parece que já estava prevendo o que ia acontecer e só uma atriz
como Amy Adams consegue passar tudo isso só pelo olhar e pelas expressões faciais.
Amy
Adams definitivamente merecia uma indicação ao Oscar, ela é o alicerce do filme
e tudo gira em torno dela. Os outros atores como Jeremy Renner (que tem um
papel mais importante do que a gente imagina) e Forrest Whitaker estão bem, mas
Amy está isolada no topo como a melhor aqui. Sua personagem consegue fazer o
impossível que é compreender a linguagem dos extraterrestres e fazer com que
eles compreendam a nossa e quem assiste não vê isso acontecendo a principio
pois não é como aprender uma língua estrangeira (e ela domina muitas) mas o
roteiro consegue dar uma aula de condução do aprendizado através dela, aos
poucos ela vai conseguindo e o telespectador não duvida da vitoria dela.
Para
pessoas que cursam Letras como eu ou cursos que estudem algum tipo de linguagem
Luise Banks é uma inspiração. Os métodos que ela utiliza, seu raciocínio lógico
e sua compostura perante a situação são coisas admiráveis. Ela é sim uma das
melhores personagens femininas do cinema na atualidade.
O
mais interessante do estudo da linguagem abordada nesse filme é que aponta as
dificuldades que enfrentamos nos dias atuais pela carência de comunicação. Os
países que recebem a visita dos ETs se comunicam entre si para discutir os
avanços que cada um fizeram quanto a comunicação com esses seres de planeta
desconhecido e no momento que essa comunicação é cortada alguns problemas
aparecem. Uns querem agir com violência outros querem continuar pacíficos, o
que atrasa o andamento daquele trabalho em grupo que estava funcionando muito
bem. Isso é o que acontece quando os países não cooperam uns com outros, o
conhecimento para resolução de problemas do mundo não avança. Ainda mais quando
há lideres políticos engajados em separar as fronteiras e consequentemente se
isolar dos outros, dificultando a troca de ideias. A interação da Dra com os
ETs reflete nossa situação atual.
Por
isso esqueça as explosões e a hostilidade, os extraterrestres vieram em paz
dessa vez e só querem conversar. A chegada é um filme para refletir e debater,
Tudo com a ajuda de ótimas atuações, principalmente de Amy. Excelentes
trabalhos de roteiro, direção, efeitos visuais e trilha sonora garantida no
silencio que aumenta a tensão e também nos barulhos emitidos pelos seres. Os
ETs são diferentes dos que já surgiram no cinema e não conseguimos vê-los detalhadamente,
mas mesmo em meio a neblinas são surpreendentes. A chegada é um filme
existencialista disfarçado de blockbuster e que te surpreende em vários
aspectos. Por causa dele já estou querendo mudar o assunto do meu TCC rs mas
veremos... apenas assistam.
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