Esse
livro foi publicado pela primeira vez em 1954 e foi um sucesso instantâneo,
tanto que a introdução do livro é só com elogios a ele. Vários autores celebres
da época elogiaram a obra e a escrita do autor William March que nem teve tempo
de apreciar seus frutos já que morreu um tempo depois da publicação dele.
Menina má é um livro fácil gramaticamente (mesmo que muito bem escrito), mas
difícil psicologicamente, já que nos faz questionar nossa natureza e a natureza
daqueles que julgamos ser tão inocentes.
O
autor teve uma infância pobre e difícil, não teve uma boa educação e se via
atormentado por isso. E como cresceu em um lar rígido e religioso se sentia um
depravado diante de seus pensamentos. Ele nunca se casou e também nunca
souberam dele com nenhuma namorada, mas reza a lenda que ele se apaixonou por
uma menina rica chamada Bessie que acabou virando uma das personagens mais
importantes de Menina má e dona da maior reviravolta do livro.
A
impressão era que ele admirava e temia as mulheres ao mesmo tempo, em certo
momento no livro uma personagem diz: “então pensei comigo mesma, vou ser tão
inteligente quanto qualquer homem do mundo, e nos termos deles” “ quem os
homens pensam que são, afinal de contas? Andando por ai como se fossem os
criadores do universo! Vou mostrar a eles como é que a banda toca”
William
também gostava de observar o comportamento das pessoas e nesse livro as
mulheres são mais astutas e más que os homens, capazes de transmitir a semente
de sua ruindade por gerações. E para a surpresa dos leitores o autor nem sequer
gostava de crianças o que talvez explique a precocidade com que ele retrata a
protagonista Rhoda, que era diferente de seus colegas, muito mais adulta,
responsável, organizada e madura.
Vamos
a sinopse, no livro a menina Rhoda, sua mãe Christine e seu pai Kenneth acabam
de se mudar para uma cidade pequena e Christine começa a ver as coisas mudarem
quando a filha vai a um piquenique da escola e um coleguinha morre afogado.
Depois desse evento ela vai notando comportamentos estranhos na menina, mais
estranhos do que o normal.
Em
boa parte das historias sobre psicopatas eles são pessoas normais que passam
despercebidos na sociedade, o que difere de Rhoda, pois ela é extremamente
diferente das crianças de sua idade. Ela usa roupas antigas e nunca as suja,
ela é muito limpa, educada e prendada. Le livros e faz amizade facilmente com
os adultos, ao contrario das crianças que por isso a odeiam, não importa aonde
ela estude.
Como
o próprio titulo do livro denuncia já sabemos que tem alguma coisa muito errada
com essa menina, mas durante a narração do livro seus crimes não são descritos
já que o livro é narrado sob a perspectiva da mãe dela. A mãe vai descobrindo
eles aos poucos e vai descobrindo coisas do seu próprio passado também, como a
origem de seus pais biológicos e a ligação da sua mãe com Rhoda. Esse paralelo
é muito interessante e ao mesmo tempo muito perturbador, pois nos faz temer
nossa própria linha genealógica.
Além
da psicopatia da menina há outros temas pesados abordados no livro como incesto
e pedofilia. Até onde vai o amor e a posse de um irmão pelo o outro? E até onde
vai a admiração e a implicância de um homem mais velho, casado e com filhos por
uma menina que o desafia? O livro levanta todas essas questões.
Todos
os personagens são muito bem contextualizados. A mãe Christine com sua
dedicação e doçura tão diferente da filha. A senhoria Monica muito atenciosa
que adora as vizinhas, mas nem desconfia da menina. O faxineiro Leroy que é
bastante irritante e nojento na maioria das vezes. As diretoras do colégio, a
mãe do menino afogado que lamenta sua perda e tantos outros personagens bem
construídos.
Após
a leitura eu assisti a sua adaptação cinematográfica The bad seed que aqui no
Brasil recebeu o horrível titulo de A Tara maldita (sim, parece titulo pornô) o
filme é de 1956 e é dirigido por Mervyn Leroy, um dos diretores de O Mágico de
Oz. Ele adaptou muito bem o livro, o deixando fiel. Na época o filme recebeu 3
indicações ao Oscar. De melhor atriz para Patty Mccormack que faz Rhoda e é
realmente a melhor atuação no filme, arrasando como a psicopata mirim. Melhor
atriz coadjuvante para a bela Nancy Kelly, que está bem, mas tem trejeitos tão
exagerados que torna sua atuação caricata algumas vezes. E também foi indicado
como melhor fotografia em preto e branco e ela é realmente linda.
O
filme mudou um pouco o final do livro, mas gostei das adaptações que eles
fizeram. Essa é a primeira vez na vida que prefiro o final do filme e não do
livro.
Menina
má foi um sucesso no passado e agora também está sendo graças a linda edição
lançada pela darkside. Rhoda foi inspiração para outros personagens como Chucky
o boneco assassino, Damien de a profecia e a menina do exorcista e servirá para
outros personagens no futuro.
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