Sabe
aqueles filmes que te deixam na “bad” e não fazem questão de te tirar dela?
Esse é Manchester a beira mar. Tecnicamente é um bom filme, ele faz tudo
certinho, mas seu pessimismo e a má vontade do protagonista te arrastam para o
limbo de tal forma que quem assiste não consegue nem ao menos ser impactado
pela dor dos personagens.
Em
Manchester Lee é obrigado a voltar para a cidade onde nasceu para cuidar de seu
sobrinho que acabou de perder o pai, irmão mais velho de Lee. Ele precisa
aprender a lidar com seus demônios do passado e com essa nova perspectiva que é
cuidar de um adolescente.
No
começo do filme já percebemos o quão importante é Joe, o irmão/pai que faleceu
e como Patrick o menino que fica órfão se dá bem com seu tio. O menino cresce
ai Joe morre, Lee perde sua família e varias coisas ruins acontecem, tudo isso
muda a dinâmica das relações dessa família. E nem tinha como não mudar. É muita
desgraça para uma família só.
Lee
tem um emprego medíocre como “faz tudo” em prédios. Ele conserta as coisas e
ainda leva desaforo dos inquilinos. O homem mora em um quartinho e a partir da
morte do irmão seu passado naquela cidade começa a vir a tona. Por meio de
flashbacks começamos a conhecer a dor que o atormenta. O motivo da separação de
sua esposa é muito pesaroso, daí entendemos a razão pelo seu semblante sempre
abatido e sua total falta de interesse nas pessoas. Quando ele bebe seu
comportamento violento é exteriorizado e toda raiva e culpa que ele carrega
surge como uma explosão.
A
interação com o sobrinho é semelhante com a que ele possui com as outras pessoas,
ou seja, nenhuma. O menino também não faz muito questão de se socializar com o
tio, coisa de adolescente. Mas ao decorrer do filme o relacionamento deles vai
aumentando, mas é tão gradativo que quase não se nota essa evolução, apenas nas
ultimas cenas que percebemos o quanto esse tio ama seu sobrinho e quer que ele
tenha uma boa vida.
Uma
questão que incomoda bastante é o luto dos dois para com Joe. Lee tem uma
ferida aberta que nunca cicatrizará e por isso entendemos a sua apatia, mas o
filho de Joe sofre mas segue em frente de forma muito rápida. Em pouco tempo já
está pensando em meninas e querendo transar com elas. Há momentos que seu luto transborda,
mas na maioria das vezes ele parece estar bem, ou ao menos, seguindo em frente.
Quem
interpreta Patrick é Lucas Hedges que está merecidamente indicado ao Oscar como
melhor ator coadjuvante. Apesar de ter apenas 20 anos ele tem muita maturidade
em sua atuação e passa emoções com muita facilidade, acredito que não ganhará o
prêmio, mas sua indicação é o reconhecimento de sua ótima atuação nesse filme.
Casey
Affleck está indicado ao Oscar como melhor ator por esse filme e talvez até
ganhe do peso pesado Denzel Washington, que não posso julgar sua atuação ainda
pois não assisti Fence. Meu coração está com Andrew Garfield mas meu cérebro
cinéfilo está apitando para Casey como vencedor da estatueta, mesmo com toda a
controvérsia de suas acusações de abuso sexual. A atuação de Casey pode fazer
os votantes esquecerem desse seu lado pessoal obscuro. Sua atuação é sofrida,
mas da forma boa. Sua dor contida, sua fala arrastada, a demora de seus
movimentos, tudo isso dá a ao personagem um peso emocional gigantesco. Tudo
está estampado no rosto do ator, mesmo que não haja expressividade. Dizem que
ele é o irmão bom ator dos afflecks mas algumas vezes eu pensava estar vendo
Ben Affleck, principalmente em seu papel em Garota Exemplar, mas de alguma
forma Casey consegue fazer bem o seu papel.
Outra
que está indicada por esse filme é Michelle Williams, uma atriz excelente que
mesmo com poucas cenas consegue fazer mágica e ser indicada. A cena especifica
que levou ela a ser indicada é de arrancar lagrimas principalmente pela sua
forma abafada de se expressar em meio ao choro guardado a tantos anos. Mesmo
estando muito bem acho que ela não levará.
Manchester
a beira má fala sobre perdas irreparáveis e um luto que nunca passará. Além das
excelentes atuações temos os cenários com cores frias, a trilha sonora
melancólica, bom roteiro e a boa direção de Kenneth Lonergan, tudo beira a
perfeição, porém diferente de Moonlight ele não fica na cabeça e não há carinho
pelos personagens, no final ele é um é um bom filme triste.
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