Estamos
cercados de séries teens sobre o cotidiano de adolescentes americanos. São
tantas que às vezes não conseguimos distingui-las de acordo com sua qualidade,
qual foi a minha surpresa ao me deparar com uma série adolescente norueguesa
que mostra um cotidiano tão diferente do que estamos acostumados, mas ao mesmo
tempo com suas similaridades, afinal, são adolescentes como qualquer outros.
Mas o que difere aqui é a qualidade do texto mesclado com a originalidade e a
coragem em abordar certos temas. Em certo ponto eu soube que aquela não era uma
série teen qualquer.
Skam é uma série de televisão norueguesa que
retrata a vida cotidiana dos adolescentes da Hartvig Nissen, uma escola
elegante no bairro rico de Frogner, em Oslo.
Essa é o tipo de série que ouvimos falar por burburinhos.
Um assiste, gosta e mostra para o outro. E assim Skam chegou até a mim, através
da indicação de amigas. Confesso que nos primeiros episódios não estava tão
empolgada. A língua diferente me incomodava e a trilha sonora saída de uma radio
pop também (mesmo tendo musicas que eu ouço) mas aquilo quebrava o sentimento
de estar assistindo algo para se levar a sério. Aos poucos fui abandonando meu
preconceito e embarcando na narrativa.
A série não tem um protagonista fixo, em cada
temporada ela fala sobre um personagem desse grupo de amigos. E com esse
personagem vem um romance. A 1° temporada é sobre Eva, focando em seu
relacionamento com Jonas (yunas na pronuncia, outra coisa para se acostumar RS)
eles já começam como um casal e vemos os altos e baixos desse relacionamento. A
2° temporada é sobre Noora e William e eles fazem o tipo de casal “amor e ódio”
no começo. A 3° é sobre Isak descobrindo sua sexualidade depois que conhece
Even (muitas pessoas começaram a assistir a partir dessa temporada e por causa
deles dois) e a 4° e ultima temporada (sim ela infelizmente foi cancelada) é
sobre Sana, uma mulçumana e seu embate entre a religião e os sentimentos que
tem por Yousef.
Skam é bem ousada quando se trata de sexo, ela
não tem medo de falar sobre o assunto e de mostrar alguns personagens com pouca
roupa, mesmo se tratando de adolescentes na faixa etária dos 16, 17 anos. E de
forma alguma isso se torna pejorativo ou algo que possa influenciar
negativamente os mais novos, até porque há uma personagem que é ginecologista e
explica algumas coisas para os personagens de uma forma muito engraçada, o que
pode diminuir o receio que algumas meninas podem ter em ir fazer uma consulta.
Ela é corajosa também ao retratar com muita
naturalidade o relacionamento gay entre Isak e Even. A relação de Isak com seus
amigos não muda por conta dessa descoberta e eles apoiam o casal o tempo todo.
Os beijos, os carinhos, a intimidade deles é retratado como algo completamente
normal (como deveria ser na vida real) e é bonito ver como o publico dessa
série também enxerga os dois assim, o que talvez as pessoas de fora não
consigam (alguns pais principalmente) e a química entre os atores que os
interpretam, o Sarjei e o Henrik, é extremamente forte, quase nos fazendo
acreditar que são um casal na vida real.
Outro casal polemico da série é Noora e
William, muitos enxergam o relacionamento deles como abusivo. Quando assisti
estava tão entorpecida pela forma como eles ficam bonitos juntos que não parei
para refletir sobre algumas coisas. Analisando profundamente vemos alguns
quesitos abusivos sim. Ele é um menino rico e mimado que está acostumado a ter
tudo que ele quer, inclusive seu namoro com a menina parte dessa premissa, pois
no começa ela não quer sair com ele de jeito nenhum. O feminismo de Noora (e o
nosso) cai por terra quando ela aceita algumas coisas da parte dele. Talvez
seja culpa das entradas em câmera lenta com os raps legais e os carrões dele,
vai saber....
Mas pulando para uma temporada mais inocente e
saudável temos a 4°. Que tratou de assuntos sérios como religião e
estrangeirismo. Conhecemos mais a fundo o Islã e a fé de Sana que não se deixa
afetar pelas coisas mundanas e segue firme em suas praticas religiosas.
Conseguimos perceber que nada é imposto a ela, ela usa o véu e ora porque quer
e vemos seu ponto de vista sobre o preconceito que ela sofre por isso. Juntando
forças com Isak, que também sofre preconceito, tornando eles uma das amizades
mais bonitas da série. A atriz Iman que interpreta Sana é mulçumana na vida
real por isso cenas mais intimas entre ela e o yousef foram vetadas. E a
química dos dois é tão grande que não precisou de sexo e beijos para
acreditarmos no sentimento dos dois.
A série tem um formato completamente diferente
do que estamos acostumados, a língua causa estranheza de inicio (depois nos
pegamos querendo aprender a língua deles) o dia da semana e a hora é colocado
bem grande na tela, o que é insignificante para a trama, mas se torna um
recurso legal. Depois de um tempo é divertido reconhecer nossas músicas pops
preferidas na trilha, e a fotografia da série também é muito boa. Conhecemos
mais da cultura norueguesa como o Bus Russ, que era algo que nunca tinha ouvido
falar, dentre outros costumes do pais. E mesmo tratando de assuntos
corriqueiros a série é muito bem escrita e produzida pela Julie Andem. Alguns
personagens são esquecidos no churrasco, mas tudo bem. Seria ótimo uma
temporada com personagens queridos como o Eskild, a Chris e a Vilde, mas
infelizmente não será possível, agora só a versão americana pois os direitos já
foram comprados.
Skam não é extremamente popular, se tornará
quando sair a versão americana, mas é uma série que merece ser descoberta. Ela
trata de muitos assuntos, mas o melhor deles é a amizade, principalmente do
squad das meninas que protagonizam. Cada uma com seu perfil e suas inseguranças
e sempre apoiando uma a outra. Skam é boa até mesmo para trabalhar a
concentração, pois como é uma língua diferente não dá para ficar mandando mensagens
ou twittando enquanto assiste, portanto largue seu celular e vá assistir essa
preciosidade antes que os americanos acabem com ela. (espero que eu esteja
errada)
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