quarta-feira, 26 de julho de 2017

Review Minissérie Big Little Lies


          Certas séries têm o poder de expor feridas e falar coisas sobre elas que talvez não estejamos preparados para ouvir (nesse casso assistir), nessa série vemos questões que já foram abordadas em outras séries e filmes, mas aqui de uma perspectiva diferente, misteriosa e acusatória. Sem muita pretensão e pensando que iremos ver a mesma coisa que já vimos milhares de vezes, Big Little Lies se torna uma das melhores coisas do ano.
          Big Little Lies é uma minissérie da HBO baseada no livro homônimo que aborda a rotina de mães e seus filhos de classe média alta, cada uma com um problema diferente.
              É difícil construir uma sinopse que faça jus á série, até porque por mais que a vida dessas mulheres pareçam perfeitas e seus problemas superficiais, elas enfrentam seus próprios demônios, além de ter que lidar com problemas com os maridos, filhos e outras mulheres com quem convivem.
            A série tem como protagonistas Reese Witherspoon (uma das produtoras) que vive Madeline uma mulher comunicativa que está em seu segundo casamento e esconde um segredo de seu marido, também precisa lidar com a rebeldia da filha mais velha e logo no primeiro episódio ela “adota” como amiga Jane, personagem de Shailene Woodley que sofreu um trauma no passado e se mudou com seu filho a pouco tempo, e as crianças da escola nova pegam no pé desse menino. Como melhor amiga de madeline temos Celeste interpretada pela Nicole Kidman que precisa lidar com seu marido abusivo.
           O mistério central da trama acontece logo no primeiro episódio, quando a filha de Renata interpretada pela Laura Dern é estrangulada por outra criança e acusa Ziggy, filho de Jane, de machuca-la. Logo mãe e filho não são vistos com bons olhos pelos habitantes dessa cidade. O interessante é ver a própria mãe desconfiada do filho, tudo por conta de uma possível e doentia herança genética que ele possa ter herdado do pai. Esse mistério é daqueles que está debaixo dos nossos olhos a todo tempo e quando é resolvido nos parece tão obvio.
              As crianças da série foram escolhidas a dedo, todas muito talentosas. Principalmente o Iain Armitage que faz Ziggy (e é o Sheldon Cooper criança na nova série) e a Darby Camp filha da Reese que interpreta uma garotinha esperta que tem um ótimo gosto musical.


          O elenco adulto nem se fala, está sensacional, começando pelas três protagonistas que estão incríveis. Nicole está muito natural em seu papel, como se estivesse fazendo uma versão dela mesma e nem por isso fica mediana. As cenas onde sua personagem é agredida são muito fortes, a violência física, verbal e psicológica que ela sofre é muito tangível. Ela tenta ser forte e retribuir na mesma moeda, mas ela não é como ele. Tanto que ela transfere a metade da culpa do relacionamento estar assim para ela, só pelo fato dela revidar.
           Quem interpreta seu marido é o Alexander Skargard e convence perfeitamente como o marido possessivo que explode com a esposa de repente e sem motivos. Ele é aquele marido que sempre diz que vai mudar que vai melhorar que bota a mulher como destruidora de lares se ela se separar dele, aquele que usa a mascara de bom pai para fazer a mulher ficar, aquele que todos acham que é maravilhoso, mas que não conhecem no dia a dia. Quantos homens você conhece que são exatamente assim?
              Reese consegue obter uma ótima atuação com muito pouco, pois Madelaine é aquela personagem comum que começa como a dona de casa fútil que está desesperada para preencher a grande lacuna de sua vida que é ser só mãe e esposa e vai se tornando aquela amiga fiel e dedicada que todas gostariam de ter. Aos poucos vai crescendo um carinho por ela.
           Shailene apesar de ser jovem já mostrou que é uma boa atriz, principalmente no drama, ela nos faz chorar como ninguém e aqui ela faz essa mãe jovem que às vezes não sabe como agir com o filho e que precisa deixar para trás o que viveu. Esse é um dos arcos mais tristes da trama, mas também, assim como o de Nicole, muito real.
       Laura Dern e Zoe Kravitz completam o time dessas mulheres maravilhosas e traumatizadas de alguma forma. A histeria de Renata personagem de Laura é o contraste da calmaria que é Bonnie a personagem de Zoe, mesmo que elas não estejam conectadas diretamente na trama. Porém vemos que Bonnie esconde algo do seu passado também, mas que não fica muito bem revelado.
             Big Little Lies tem um elenco extremamente forte, uma trilha sonora envolvente, (a abertura da série já é uma amostra disso) uma fotografia linda, cenários belíssimos e claro um ótimo roteiro e direção. Ao terminar a série constatamos que há muitos plots previsíveis na trama, e nos culpamos por não ter pensado naquilo antes pois estava na cara, aposto que muitas pessoas sabiam dessas coisas desde o começo (menos eu RS). E apesar da previsibilidade e do ritmo lento como a calmaria do mar que enfeita a janela das protagonistas ela é uma minissérie muito envolvente, você quer ver numa tacada só. Ela está indicada a vários Emmys, muitos nas categorias principais, inclusive Reese e Nicole disputam o de melhor atriz de minissérie, a torcida por Nicole está grande, mas a maior vitoria da série é aquele final lindo exalando empoderamento e sororidade. 


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