domingo, 26 de fevereiro de 2017

Indicados ao Oscar: Capitão Fantastico



          A forma como você cria seus filhos diz muito sobre você mesmo, o que eles se tornarão talvez seja consequência da criação que lhe foi dada e hoje somos imersos no mundo da tecnologia e do capitalismo desde cedo. Crianças muito novas sabem mexer em celulares, computadores, tablets e etc... de uma forma que até alguns adultos não sabem, então imagina a surpresa para o público quando vê um filme que mostra um tipo de criação que abomina tudo isso.
       Em Capitão fantástico um pai educa as crianças no meio de uma floresta, sobrevivendo apenas com o que a natureza proporciona a eles. Até que a mãe das crianças morre e eles são obrigados a encarar o mundo novamente.
               Quando começamos a assistir ao filme há um certo estranhamento na forma que esse pai educa seus filhos. As seis crianças, da menor até o filho mais velho vivem da mesma forma, tendo que caçar para comer, fazendo exercícios, alguns deles pesados como escalada e aprendendo as matérias escolares em “casa”
            Eles são uma espécie de hippies que abominam o capitalismo das grandes cidades, fast food e tecnologias em geral. Sim é estranho no começo, mas logo nos habituamos a esse peculiar modo de se viver e vemos os benefícios sobre as crianças.
           Eles são extremamente fortes e inteligentes. Sabem várias línguas estrangeiras, tem um conhecimento muito grande de história, física, matemática e etc... a pratica da leitura é muito valorizada pelo pai e por isso eles sempre tem um livro a mão, o que expande a mente deles e dá riqueza cultural e um ótimo vocabulário. Além do fato deles saberem sobreviver em qualquer ambiente hostil caso alguma coisa ruim aconteça.
             Quando eles vão para a cidade para o enterro da mãe e passam a conviver com seus parentes notam que ali é outro mundo. O mais legal é que como uma amiga cinéfila mesmo ressaltou o diretor não faz da aventura deles uma coisa cafona de sessão da tarde onde os hippies se tornam chacota para o povo da cidade. E também não há deslumbramentos como em tantos outros filmes, as crianças ficam curiosas em ver aquelas coisas novas, mas elas reconhecem as coisas boas que elas têm e mesmo inseridas em um mundo com vídeo games e comidas superfaturadas elas se mantem fiel as suas raízes. Apenas dois filhos parecem querer se encaixar nesse novo mundo e querer explorar ele.


          Rellian que é um dos filhos do meio acaba gostando das coisas dos primos e quer viver com os avós. Ele é o filho rebelde do clã e põe a culpa da morte da mãe sobre o pai. O filho mais velho é grato pelas coisas que tem, mas se sente privado das coisas que os jovens de sua idade passam. Ele não sabe como namorar e por isso quando encontra uma menina parece um bichinho assustado e se comporta de forma bizarra, pedindo em casamento qualquer uma que lhe dê um beijo. Em um dos diálogos com seu pai Ben ele o confronta acerca das coisas que ele não conhece, das relações que ele perdeu ao viver isolado na floresta e como é aceito em várias faculdades precisa lidar com a desaprovação de Ben, que as vê como instituições falhas.
           Uma das coisas mais interessantes no filme (e olha que o filme tem várias coisas) é o fato de que Ben é totalmente sincero com seus filhos. Ele não é como os pais que conhecemos (ele não é como os nossos próprios pais) ele não mente para seus filhos, se algum deles lhe pergunta algo ele vai direto ao ponto, por mais adulto que seja o questionamento. Um deles perguntou sobre o ato sexual e ele fala exatamente como acontece. Ele não explica por meio de cegonhas e repolhos, ele fala o que realmente é. Não há ladainha de papai Noel, coelho da pascoa e outras fantasias. E isso é extraordinário. Quando um dos primos pergunta o que aconteceu com a mãe das crianças a irmã de Ben tenta dar a volta nele, falando de doença e tal, mas ai Ben com toda sua sinceridade fala na lata o que aconteceu. Ele expõe a realidade e deixa seus filhos viverem suas próprias experiências.
        O elenco é extraordinário. O protagonista e líder da trupe é vivido por Viggo Mortensen, que se ganhasse o Oscar seria muito merecido, com o perdão do trocadilho ele está realmente fantástico. É uma atuação bem corajosa (até nu frontal acontece) e as crianças também são ótimas, foram escolhidas a dedo. Destaque para o filho mais velho interpretado pelo George Mackay (que temos que ficar de olho) e para as duas crianças mais novas, a menina Shree e o menino Charlie (que eu passei metade do filme achando que era menina)
          O roteiro de Matt Ross é bastante original e nada previsível e ele também entrega uma direção acertada. O visual do filme parece obra do Wes Anderson, com uma paleta de cores bem colorida.
            Capitão fantástico é um filme “diferentão” daqueles que apenas cinéfilos assistem e apreciam. Poucas pessoas vão concordar com a realidade exposta nele, essa realidade que é superior a nossa em alguns aspectos e inferior em outros. O que importa é que Ben é um ótimo pai, e os irmãos são carinhosos e afetuosos uns com os outros, o filme nos faz repensar o tipo de criação que damos para nossas crianças, eu não tenho filhos mas sei que com esse filme tomei várias lições para quando tiver, não que eu vá parar no meio de uma floresta com meus filhos mas a sinceridade do protagonista será uma das práticas adquiridas. A maior lição desse filme é: independente dos ensinamentos que você julga melhor para seus filhos sempre seja o (a) capitão (a) fantástico (a) deles.

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