sexta-feira, 2 de março de 2018

Indicados ao Oscar: Review A Forma da Água


          Com uma mistura de conto de fadas, filme de monstro e homenagem ao cinema, A Forma da água é talvez o filme do Oscar que mais se aproxima do grande publico, ao mesmo tempo em que pode repelir alguns graças à sua coragem de insinuar sexo entre espécies diferentes e tratar com naturalidade coisas como a masturbação. Além das criticas sociais que ele traz. Porém, a beleza do filme é inegável, tanto em sua estética caprichada, quanto na estória contada.
            Elisa é uma mulher muda que trabalha em um laboratório e lá seu patrão inescrupuloso mantém em cativeiro um homem anfíbio por quem ela se apaixona e planeja a fuga dele.
            Mesmo que The Shape of Water seja considerado um conto de fadas moderno, aos moldes de A Bela e a fera, a mocinha em questão não é tão inocente e indefesa como nos filmes da Disney e nos livros infantis. Ela é sim uma moça tímida (principalmente por causa de sua deficiência) e sonhadora. Ama musicais e provavelmente sonha com um amor que ela vê nesses filmes. Contudo, mesmo sendo inocente ela não deixa que homens cruéis se aproximem dela e apesar do medo ela os desafia.
              Ela também tem o domínio do seu próprio corpo. Ao que tudo indica ela é virgem, mas mesmo assim ela se conhece através do toque, que ela faz todos os dias e dentro da banheira, o que já aponta sua conexão com a água. 


          Sally Hawkins está incrível como Elisa, a inocência e a bravura da personagem são transmitidas muito bem, ela também está ótima fazendo o uso da Libras. Sua amiga de trabalho Zelda, interpretada pela Octavia Spencer, é o oposto dela, pois fala pelos cotovelos, a conexão entre as duas é muito interessante, é como se elas se completassem.Elas se ajudam no ambiente de trabalho e se unem contra seu patrão carrasco, interpretado pelo Michael Shannon, que tem cara de vilão e adiciona mais um ao seu currículo, e ele interpreta com tanta verdade que nos faz odiar esse homem racista e sádico.
          Um personagem que é muito querido e que expõe outra forma de preconceito é o melhor amigo gay de Elisa, muito bem interpretado pelo Richard Jenkins que faz um personagem adorável, mas que assim como sua amiga também esconde o que ele é por medo da sociedade. Michael Stuhlbarg também faz parte do elenco e é realmente o melhor coadjuvante dessa temporada de premiações, também está em Me Chame pelo seu nome. A criatura é interpretada pelo ator Doug Jones, (que é o Andy Serkis da maquiagem) que trabalhou anteriormente com Guilhermo Del toro em O labirinto do Fauno e Hellboy.
          Del toro é responsável pelo roteiro, pela direção e pelo visual do filme, que é semelhante ao de alguns filmes que ele já fez, mas diferente em certos pontos também. Este está mais sofisticado e mais romântico, a pegada gótica tão característica de seus projetos não é tão grande aqui, mas também não é inexistente. Sua criatura é bem parecida com a de Hellboy e a maquiagem é perfeita em cada detalhe. Toda a parte artística do filme é impecável, o figurino, os cenários e etc... a trilha sonora composta pelo Alexandre desplat é clássica e belíssima.
          A Forma da Água é um filme encantador, com visual deslumbrante e atuações acertadas. Não inova no roteiro, pois segue a narrativa clássica de uma fábula e também expõe muito explicitamente preconceitos aos negros e aos homossexuais, essa falta de sutileza pode soar como algo superficial que foi encaixado para mostrar que está falando de assuntos das pautas atuais, porém, funciona como gatilho de revolta e nos irritam as atitudes mostradas. Se Guilhermo ganhar o Oscar vai ser extremamente merecido, pois esse é um dos contos de fadas atuais mais belos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário