Chaves, chapolin, chespirito e tantos outros personagens
de Roberto Bolaños fizeram parte da minha e da sua infância. Especialmente Chapolin
o anti herói mais conhecido como polegar vermelho e chaves, no México chamado
El chavo del ocho, o menino pobre que supostamente morava em um barril.
O gênio por trás desses personagens tão bem construídos,
interpretados e dirigidos foi Roberto bolaños, que infelizmente faleceu na
tarde de ontem (28/11/2014) Sei que um dia teria que acontecer mas é difícil
dizer Adeus há alguém tão presente na infância de muitos.
Tenho um carinho muito grande por Roberto, porque como
não poderia ser diferente também cresci assistindo, rindo e imitando seus personagens.
Minha história com Chapolin e Chaves começou muito cedo. Segundo meu avô assim
que comecei a aprender a formar palavras e formar frases uma das frases que
mais estiveram presentes nos meus lábios eram: “Não contavam com minha astúcia”
na minha versão quando bebe era: “não contavam com minha tuta” rs falava isso
30 vezes por dia e acompanhado de um pulinho igualmente ao meu herói de
infância. Por conta disso meu avô me deu a notícia de sua morte com tanta
delicadeza.
Notícias falsas sobre a morte dele surgiam todo ano, por
isso não acreditei de imediato mas dessa vez era verdade e tive a confirmação coincidentemente
enquanto assistia Chaves no sbt. E até agora está sendo difícil de assimilar.
Roberto já estava muito doente. Fazia anos que não
aparecia e não trabalhava mas os episódios eram repetidos várias e várias vezes
há 30 anos na tv brasileira. E mesmo que fossem os mesmos episódios e as mesmas
piadas o público não deixava de assistir. Chaves foi o carro chefe do sbt por
anos por tamanha popularidade desse programa.
É difícil um programa ter tanta popularidade e por tantos
anos depois de seu cancelamento, mas esse era o caso porque dava para nos
identificar com os personagens e rir deles. Quem nunca conheceu alguém que
pudesse ser comparado com os personagens tão queridos da vila? Eu mesma por exemplo
tenho um chaves, um Quico, uma Chiquinha, um seu madruga, uma dona Florinda e
um professor girafales entre família/amigos e vizinhos. E quem nunca chamou
aquele amigo gordo de ñoño? (Eu jurava que se escrevia nhonho)
O legado da cultura pop que Roberto nos deixou é
imensurável. As frases, os trejeitos, as musiquinhas, as roupas (toda festa a
fantasia tem um personagem da vila ou um Chapolin), tudo.... Quem nunca disse:
foi sem querer querendo! Ou “você não vai com a minha cara?” e eu pessoalmente
vou mais longe porque toda vez que alguém quer falar algo pra mim e não
consegue lembrar da palavra eu solto essa: “o gato ou o Quico?” e a maioria das
pessoas não entendem porque eu disse isso mas simplesmente riem porque se
lembram do tribunal do chaves. Aposto que você já ficou na porta da sua sala na
escola e quando o professor estava chegando dizia correndo: “já chegou o disco
voador” ou se não “venha tesouro não se misture com essa gentalha” em
determinada ocasião. Além das frases existiam as piadinhas e os aprendizados
que você tirava sem perceber. Com chaves você aprendeu a desenhar um porquinho,
um xadrez para principiantes, uma xilofompila e fazer poemas (vide o cão
arrependido) aprendeu sobre história, geografia, inglês e até biologia. Você
sabia que os sapinhos fazem realmente HUM, HÁ, HUM? É algo ligado ao sistema
respiratório deles ou algo do tipo, um professor de biologia nos disse um vez.
Além de outras coisas como o fato do Quico ter o complexo de Édipo. Ele se
veste como o falecido pai (que era marinheiro e descanse em pança) mas não para
imita-lo. Ele quer ser como o pai para poder encontrar uma mulher como a mãe
dele, dona Florinda, por quem ele tem uma admiração muito maior do que a que
tem pelo pai. Isso faz todo sentido quando você descobre que Carlos villagrán
(Quico) namorou dona Florinda antes dela se casar com chaves. Outra
curiosidade: sabe porque o cabelo da Chiquinha não fica igual de um lado e de
outro? Uma maria Chiquinha fica em cima e a outra em baixo. Isso ocorre porque
ela é filha de um homem viúvo e homens que criam suas filhas sozinhos
supostamente não sabem pentear elas direito. Essas são algumas das coisas
simples e imperceptíveis mas que não estavam ali por acaso, tinham um proposito
na cabeça de seu criador.
Roberto escrevia, atuava e dirigia em seus programas e
sua genialidade era tanta que seu apelido Chespirito era uma comparação com
Shakespeare. Tudo que ele fazia era minimamente orquestrado para que fosse tão
divertido e especial do jeito que era e olha que a formula era bastante simples.
Eram adultos interpretando crianças e se importavam exatamente como tais, sem
acrescentar elementos alegóricos como hollywood faz que tornam personagens
infantis tão artificiais e incomuns.
Roberto e sua relação com o cinema
Bolaños tinha uma noção extraordinária de cinema. Prova
disso era o ícone pelo qual ele se inspirava para compor seus personagens:
Charles Chaplin. Um dos maiores comediantes que já existiu e que foi o pioneiro
na arte de fazer rir. Até fisicamente os dois eram parecidos. Eram baixinhos e
roberto o imitava no andar ao curvar as pernas. Só faltou lhe o bigodinho e a
bengala. Porque o chapéu estava lá, só que de formatos e cores diferentes. A série
chapolin era aquela velha imitação do herói americano (só que mexicano) e com
características de anti herói. Ele não era corajoso como o superman. Ele corria
dos bandidos, se encolhia com as pílulas, se escondia deles e ainda sempre
esbarrava em algo ao dizer: “sigam-me os bons” ele era medroso porem
carismático e de uma forma ou de outra ele sempre salvava o dia. O programa
chapolin sempre tinha uma referência cinematográfica, uma das mais fortes foi
ele fazendo a celebre cena de cantando na chuva. Só que dublando e dançando de
forma bem inferior há Gene kelly, mas tudo bem....
O
mito Eterno....
É muito difícil você
ser fã de alguém e imita-lo ao ponto de alcançar seu patamar mas isso aconteceu
com Roberto Gómez bolaños. Ele foi tão genial quanto Charles Chaplin e assim
como seu ídolo ele introduziu várias críticas sociais em seu trabalho. Um
trabalho simples, ingênuo e puro que não apelava para palavrões, baixarias,
mulher pelada e piadinhas de duplo sentido. Ele foi autentico e encantou
milhares de gerações pela América latina. Meus pais assistiram chaves, eu
assisti chaves e com certeza meus filhos assistirão chaves...porque mesmo que
ele não esteja no ar daqui a 30 anos ele terá sempre um lugarzinho especial na
minha estante, na minha mente e no meu coração.
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