Garota
Exemplar foi o terceiro e último livro da maratona literária que eu li. Demorei
bastante para termina-lo por motivos óbvios de que li em PDF e por que não é
uma leitura fácil. Mesmo que seja um ótimo livro. Ele é escrito pela jornalista
e amante de filmes de terror (nota-se) Gillian Flynn que jura de pés juntos que
o casamento conturbado de Nick e Amy não é baseado em nada no seu próprio
casamento que é bastante saudável.
Antes
de ler o livro eu já tinha visto o filme, gostei tanto do roteiro, das
reviravoltas bombásticas cheias de surpresas e dos protagonistas que decidi ler
o livro. Não sou dessas que segue por essa ordem, mas o filme realmente me
surpreendeu e eu precisava saber mais sobre Nick e Amy, o que se passava nas
cabeçinhas psicopatas dos dois (principalmente da Amy, rainha, diva e
pirigótica)
Sabemos
que adaptações literárias para o cinema as vezes nos omitem elementos
fundamentais que só podem ser conectados se lermos o livro e é assim com Garota
exemplar. Mesmo que o filme tenha sido muito fiel ao livro e tenha nos poupado
de algumas partes pedantes do mesmo, quando você lê o livro muitas coisas são
esclarecidas. O psicológico de seus protagonistas é bem melhor explorado no
livro, é como se fizéssemos o que Nick diz no começinho do livro/filme damos
uma marretada na cabeça dos dois e conseguimos saber o que eles pensam e
sentem. Só depois de ler o livro que conseguimos perceber as nuances de Amy, de
como ela era manipuladora e de como no final estava quase sendo manipulada por
Nick. (ele aprendeu direitinho com ela)
Ao ver o filme fiquei
fascinada pela personagem, é incrível como ela passa de vítima a “vilã” em
questão de minutos. O telespectador inocente sente pena dela, a vê como a
esposa traída e maltratada para depois ficar chocado com seu plano mirabolante
e bem arquitetado. A atuação de Rosamund Pike contribui bastante para alguns se
pegarem torcendo pela esposa fria e calculista. Ela é tão “expressiva em sua performance
inexpressiva” que causa arrepios. Não poderiam ter escolhido ninguém melhor, e
olha que Rosamund ainda não tinha sido descoberta mas pegou o papel vestiu ele
e o fez cair como uma luva. Tanto que concorreu ao Oscar. Eu estava torcendo
por ela! Mas também fiquei feliz por Juliane Moore que afinal... é a Juliane
Moore e nunca tinha ganhado o Oscar e além de torcer por ela também torci pela
Amy em Garota Exemplar, ficava com pena de Nick em alguns momentos, mas Amy é
fascinante. Uma mulher louca e genial ao mesmo tempo. Que faz tudo pelo
casamento, mesmo que inicialmente o plano fosse se matar para incriminar o
marido. Porem dá para perceber nas entrelinhas ela o ama, mesmo com seu
jeitinho freak de amar. Ela fugiu, mas sempre estava pensando em Nick. Ela o
amava de verdade e o conhecia profundamente. No sentido mais piegas e
romancista possível, Nick era o ponto fraco de Amy. Ele desestabilizava ela e
também tinha suas armas para manipula-la. Tanto que ela decide voltar para casa
depois dele dizer tudo que ela queria ouvir no programa de TV. E usar a gravata
e o relógio que ela deu pra ele e prometer ser o marido que ela queria. Mesmo
assim podemos dizer que ela não caiu como um patinho, ela só foi atrás da
recompensa. Daquilo que ele prometeu e ela não ia cansar até ele dar a ela.
Tanto que ele próprio se vê querendo ser aquele homem.
Ele
a admirou tanto por toda sua orquestra sinfônica maluca envolvendo a caça ao
tesouro, a anos a fio escrevendo num diário fingindo ser alguém que ela não
era, sendo a “amy boazinha e inocente” fazendo amigos para contradizer o
marido, tentando comprar uma arma que ela sabia que não precisaria, fingindo
uma gravidez (algo que ele sempre quis e ela não) sendo a boa filha (que odiava
os pais) e enfim enchendo seu passado de traumas que nem aconteceram. Ela foi
tão perfeita ao arquitetar tudo que encheu o marido de orgulho. E da admiração
surge a paixão, que foi o que reacendeu entre os dois. Mas é claro que nenhum
dos dois deu o braço a torcer e se jogou nos braços um do outro. Todo
sentimento nutrido era apenas nítido para os coadjuvantes da ficção e para os
leitores e expectadores. Eles simplesmente não precisam de nenhuma declaração
de amor. O amor misturado a loucura e obsessão dos dois é nítido. Mas se engana
quem acha que Amy foi perfeita em tudo que ela fez, ela falhou algumas vezes em
seus planos e Nick não foi o trouxa a todo tempo. Ele conhecia tão bem sua
esposa que logo descobriu sua armação, ele foi seguindo as pistas até o caso
ser solucionado. Este foi o melhor trabalho (como ator) de Ben Afleck. Ele é
parecido com Nick até fisicamente. O queixo de vilão, o tipo físico, a postura
e a cara eterna de sono e tédio fizeram com que Ben nem precisasse se esforçar.
Eu lia o livro e assim como Rosamund só conseguia enxerga-lo no papel. O
personagem pode parecer atípico para algumas pessoas, mas é tão fácil associar
algumas características dele a certos homens. Ele é o típico marido entediado
que está desempregado e se encontra acomodado, não acha que se encaixa mais em
sua própria profissão e isso o impede de correr atrás, por isso joga vídeo
games o dia inteiro, não ajuda nas tarefas domésticas, vive reclamando da
esposa e fazendo-se de vitima e arruma uma amante para passar o tempo (similaridade
com o próprio Ben Afleck que traiu Jennifer Garner recentemente). Nick é um
cara machista que tem medo de virar o pai, um idoso doente que foi e é
extremamente machista também. Ambos não suportam mulheres que possam exercer
alguma autoridade sobre eles e Nick age com a esposa da mesma forma que o pai
(que ele odeia, ta aí mais uma similaridade com Amy) agia com sua mãe, que
morreu de câncer e Nick não reagiu como deveria na ocasião, ele não fica de
luto como as outras pessoas, ele tem uma postura watever para tudo, apenas não
sabe lidar com a perda. Mas mesmo sendo tão sexista, ele ama de verdade a
companhia da irmã gêmea, uma das poucas mulheres que exercem influencia sobre
ele (além da falecida mãe) o livro e o filme até insinuam que a relação dos
dois possa ser a lá Cersei e Jamie de Game of Thrones. O que é repugnante e
falso.
Assistir,
ler e depois assistir novamente foi uma experiência satisfatória que fechou
lacunas e aspas. Nos faz ver o quanto a escalação do elenco foi primorosa. Neil
Patrick Harris foi perfeito na pele de um playboyzinho filho da mamãe. E é
incrível como ele convence como hetero. Hollywood poderia dar mais
oportunidades para outros atores assim como as que ele tem, pois, opção sexual
não influencia em nada. A direção de David Fincher também foi excepcional, esse
se tornou meu segundo filme preferido do diretor (Fight Club forever <3) a
trilha também é muito bem composta, não há músicas, apenas sons e ruídos que
conduzem o suspense. O Livro também é muito bem escrito por Gillian (que eu
pensei que fosse homem) que parece entender muito bem a dinâmica do casamento.
Estou ansiosa para ler os próximos livros da autora.
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