sábado, 15 de agosto de 2015

MLI2015: Garota Exemplar - Review filme e livro


       Garota Exemplar foi o terceiro e último livro da maratona literária que eu li. Demorei bastante para termina-lo por motivos óbvios de que li em PDF e por que não é uma leitura fácil. Mesmo que seja um ótimo livro. Ele é escrito pela jornalista e amante de filmes de terror (nota-se) Gillian Flynn que jura de pés juntos que o casamento conturbado de Nick e Amy não é baseado em nada no seu próprio casamento que é bastante saudável.
Antes de ler o livro eu já tinha visto o filme, gostei tanto do roteiro, das reviravoltas bombásticas cheias de surpresas e dos protagonistas que decidi ler o livro. Não sou dessas que segue por essa ordem, mas o filme realmente me surpreendeu e eu precisava saber mais sobre Nick e Amy, o que se passava nas cabeçinhas psicopatas dos dois (principalmente da Amy, rainha, diva e pirigótica)
       Sabemos que adaptações literárias para o cinema as vezes nos omitem elementos fundamentais que só podem ser conectados se lermos o livro e é assim com Garota exemplar. Mesmo que o filme tenha sido muito fiel ao livro e tenha nos poupado de algumas partes pedantes do mesmo, quando você lê o livro muitas coisas são esclarecidas. O psicológico de seus protagonistas é bem melhor explorado no livro, é como se fizéssemos o que Nick diz no começinho do livro/filme damos uma marretada na cabeça dos dois e conseguimos saber o que eles pensam e sentem. Só depois de ler o livro que conseguimos perceber as nuances de Amy, de como ela era manipuladora e de como no final estava quase sendo manipulada por Nick. (ele aprendeu direitinho com ela)
       Ao ver o filme fiquei fascinada pela personagem, é incrível como ela passa de vítima a “vilã” em questão de minutos. O telespectador inocente sente pena dela, a vê como a esposa traída e maltratada para depois ficar chocado com seu plano mirabolante e bem arquitetado. A atuação de Rosamund Pike contribui bastante para alguns se pegarem torcendo pela esposa fria e calculista. Ela é tão “expressiva em sua performance inexpressiva” que causa arrepios. Não poderiam ter escolhido ninguém melhor, e olha que Rosamund ainda não tinha sido descoberta mas pegou o papel vestiu ele e o fez cair como uma luva. Tanto que concorreu ao Oscar. Eu estava torcendo por ela! Mas também fiquei feliz por Juliane Moore que afinal... é a Juliane Moore e nunca tinha ganhado o Oscar e além de torcer por ela também torci pela Amy em Garota Exemplar, ficava com pena de Nick em alguns momentos, mas Amy é fascinante. Uma mulher louca e genial ao mesmo tempo. Que faz tudo pelo casamento, mesmo que inicialmente o plano fosse se matar para incriminar o marido. Porem dá para perceber nas entrelinhas ela o ama, mesmo com seu jeitinho freak de amar. Ela fugiu, mas sempre estava pensando em Nick. Ela o amava de verdade e o conhecia profundamente. No sentido mais piegas e romancista possível, Nick era o ponto fraco de Amy. Ele desestabilizava ela e também tinha suas armas para manipula-la. Tanto que ela decide voltar para casa depois dele dizer tudo que ela queria ouvir no programa de TV. E usar a gravata e o relógio que ela deu pra ele e prometer ser o marido que ela queria. Mesmo assim podemos dizer que ela não caiu como um patinho, ela só foi atrás da recompensa. Daquilo que ele prometeu e ela não ia cansar até ele dar a ela. Tanto que ele próprio se vê querendo ser aquele homem.




       Ele a admirou tanto por toda sua orquestra sinfônica maluca envolvendo a caça ao tesouro, a anos a fio escrevendo num diário fingindo ser alguém que ela não era, sendo a “amy boazinha e inocente” fazendo amigos para contradizer o marido, tentando comprar uma arma que ela sabia que não precisaria, fingindo uma gravidez (algo que ele sempre quis e ela não) sendo a boa filha (que odiava os pais) e enfim enchendo seu passado de traumas que nem aconteceram. Ela foi tão perfeita ao arquitetar tudo que encheu o marido de orgulho. E da admiração surge a paixão, que foi o que reacendeu entre os dois. Mas é claro que nenhum dos dois deu o braço a torcer e se jogou nos braços um do outro. Todo sentimento nutrido era apenas nítido para os coadjuvantes da ficção e para os leitores e expectadores. Eles simplesmente não precisam de nenhuma declaração de amor. O amor misturado a loucura e obsessão dos dois é nítido. Mas se engana quem acha que Amy foi perfeita em tudo que ela fez, ela falhou algumas vezes em seus planos e Nick não foi o trouxa a todo tempo. Ele conhecia tão bem sua esposa que logo descobriu sua armação, ele foi seguindo as pistas até o caso ser solucionado. Este foi o melhor trabalho (como ator) de Ben Afleck. Ele é parecido com Nick até fisicamente. O queixo de vilão, o tipo físico, a postura e a cara eterna de sono e tédio fizeram com que Ben nem precisasse se esforçar. Eu lia o livro e assim como Rosamund só conseguia enxerga-lo no papel. O personagem pode parecer atípico para algumas pessoas, mas é tão fácil associar algumas características dele a certos homens. Ele é o típico marido entediado que está desempregado e se encontra acomodado, não acha que se encaixa mais em sua própria profissão e isso o impede de correr atrás, por isso joga vídeo games o dia inteiro, não ajuda nas tarefas domésticas, vive reclamando da esposa e fazendo-se de vitima e arruma uma amante para passar o tempo (similaridade com o próprio Ben Afleck que traiu Jennifer Garner recentemente). Nick é um cara machista que tem medo de virar o pai, um idoso doente que foi e é extremamente machista também. Ambos não suportam mulheres que possam exercer alguma autoridade sobre eles e Nick age com a esposa da mesma forma que o pai (que ele odeia, ta aí mais uma similaridade com Amy) agia com sua mãe, que morreu de câncer e Nick não reagiu como deveria na ocasião, ele não fica de luto como as outras pessoas, ele tem uma postura watever para tudo, apenas não sabe lidar com a perda. Mas mesmo sendo tão sexista, ele ama de verdade a companhia da irmã gêmea, uma das poucas mulheres que exercem influencia sobre ele (além da falecida mãe) o livro e o filme até insinuam que a relação dos dois possa ser a lá Cersei e Jamie de Game of Thrones. O que é repugnante e falso.

       Assistir, ler e depois assistir novamente foi uma experiência satisfatória que fechou lacunas e aspas. Nos faz ver o quanto a escalação do elenco foi primorosa. Neil Patrick Harris foi perfeito na pele de um playboyzinho filho da mamãe. E é incrível como ele convence como hetero. Hollywood poderia dar mais oportunidades para outros atores assim como as que ele tem, pois, opção sexual não influencia em nada. A direção de David Fincher também foi excepcional, esse se tornou meu segundo filme preferido do diretor (Fight Club forever <3) a trilha também é muito bem composta, não há músicas, apenas sons e ruídos que conduzem o suspense. O Livro também é muito bem escrito por Gillian (que eu pensei que fosse homem) que parece entender muito bem a dinâmica do casamento. Estou ansiosa para ler os próximos livros da autora. 

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