sábado, 19 de setembro de 2015

Talvez Eu Não Queira Ser Uma Princesa


Na verdade até gosto das princesas, mas lá nos filmes da Disney... (ps: A Bela até que é uma princesa cheia de atitude) 

Decidi escrever esse texto por causa de um podcast polemico que surgiu essas semanas e repercutiu bastante (pelo menos dentre nós da podosfera, blogosfera e tantas esferas do dragão)
       Assim como a maioria das meninas fui criada cercada de pensamentos preconceituosos. Não por culpa dos meus pais ou da minha família, por culpa da sociedade que possui conceitos fixos que são difíceis de exorcizar. Como tentar mudar a cabeça do seu avô que foi ensinado pelo pai que mulher não pode trabalhar? de que mulher não pode aprender a escrever por que se não iria escrever cartinha pra namorado? Que também trouxe preconceitos contra negros e etc... Não dá pra mudar isso, mesmo que se tente veementemente. O negocio é mudar agora os nossos pensamentos, aqueles que também possuem ideias impregnadas por gerações.
               Por mais que agora eu seja bem mais feminina já fui muito “moleque” e sofri muita lavagem cerebral por isso. Na pré-escola eu odiava brincar com as meninas. Não gostava das brincadeiras delas, não queria fingir que uma boneca era minha filha por que achava constrangedor. Eu gostava de brincar com os meninos, eu queria ser policial, eu fazia arma de massinha e saia correndo “atirando” pra todos os lados, ficava de castigo todos os dias por causa disso, a professora dizia “você é menina, não pode ser policial” e eu nunca entendi por que.
              Na minha rua os gêneros eram bem equilibrados, eu até brincava com as meninas, mas chegou uma época que eu só me via brincando com os meninos (mais novos do que eu, diga-se) e eu adorava. Adorava correr, soltar pipa, jogar bola e etc... (mesmo que eu fosse péssima em tudo isso, sim, ruim mesmo) também fazia “coisas de menina” gostava de dançar, de assistir musicais e de ver filmes de princesa (nunca gostei de cabelo e maquiagem), mas mesmo para a dança eu pegava a blusa do homem aranha que meu irmão tinha e ia para as aulas. Na falta de heroínas, o homem aranha era o meu preferido. Nunca idolatrei a mulher maravilha, ela era perfeita e eu não, por isso me identificava tanto com o Homem aranha. Como uma Viúva negra fez falta naquela época. E quando eu não queria me casar com o Johnny Depp eu queria SER ele. Até brincava que era uma das panteras e era muito maneiro ser uma... mas ser o capitão Jack sparrow seria tão legal também.
         Por conta de tudo isso ouvi frases como “você é menina, se comporte como tal” “senta direito” “você é uma mocinha” “você gosta desse filme? É de menino” e na adolescência com comentários do tipo “você nunca vai ter um namorado se continuar gostando dessas coisas” e com o passar dos anos e a sociedade se modernizando e se atualizando ainda ouço e leio comentários do tipo, agora na internet. “tinha que ser mulher mesmo” já ouvi e inclusive já falei muito essa frase... Confesso! Esse é o tal preconceito enraizado.

Eu achava que o fato de ter um blog, participar de um site e de poder expressar minha opinião na internet quebraria algumas barreiras do machismo, mas fui trouxa e vi que só piorou. A discriminação é igual ou maior por aqui. Talvez por ser um veiculo expansivo e onde todos podem falar abertamente o que quiserem. Ou deveriam, sem serem subjugados. Já repararam que a maioria dos sites, blogs, canais de youtube e afins que falam sobre cultura pop são feitos por homens? Eu sou uma menina que fala sobre cinema, séries e livros no meu blog (mais sobre cinema) e é uma dificuldade terrível encontrar blogs com o mesmo conteúdo para fazer parcerias. Procuro sempre por blogs e sites femininos  e a maioria deles é SÓ sobre livros. Um review de cinema de vez em quando. 


       A mulher é associada a apenas alguns assuntos. Livros, maquiagem, roupas, comportamento e etc... Muitas mulheres tem medo de expor pensamentos a cerca de cultura pop por que sabem que a credibilidade não será a mesma se elas optassem por discutirem os temas anteriores. Por que aparentemente mulher não sabe falar sobre cinema e TV. Mulher é padronizada (alguns homens também, convenhamos) a menina que assiste crepúsculo não pode ser levada a sério por que simplesmente ela gosta de crepúsculo... Mas essa mesma menina adora Clube da luta e dai? Essa mesma menina assiste os filmes do Quentin Tarantino de boa, sem nojinho e mimimi, ela é fã do Martin Escorsese e assiste Sons of anarchy. Tá bom pra vc? Mulher é convidada para falar de Glee (por que é musical e você sabe, musical é coisa de mulherzinha), mas não de SOA por que afinal, é uma série de motoqueiros, ela não deve assistir. Será mesmo? Você já perguntou ou indicou essa série pra ela?
Comédia romântica não é só para meninas e filmes de ação não é só pra meninos... Por tempos achamos que isso estava bem esclarecido, mas só foi ir à sessão de Mad Max e ver que estávamos errados. Onde eu e minha amiga éramos umas das pouquíssimas mulheres na sala. Ok, talvez você diga, mas isso é culpa de vocês. Não é culpa de ninguém, apenas fomos acostumadas e ambientadas a isso. A ir assistir a nova comédia da Katherine heigh (ela ainda faz filmes?) do que a ver o novo filme do Vin Diesel. Às vezes o preconceito está em nós mesmos...
       Quando a Sansa foi estuprada em Game of thrones o pensamento machista que passou pela minha cabeça foi: “mas ela casou ué, fazer o que?” além de ser a esposa de um filhinho de papai inescrupuloso ela é uma menina assustada que não merecia ser tratada daquele jeito. (eu fui babaca e machista) A mesma coisa acontece quando vemos uma menina de 15 anos usando roupas curtas ser estuprada e morta. “mas também, olha a roupa que ela tava usando, pediu” ninguém quer ser violentada e morta meus amigos...
Em uma pesquisa recente constatou-se que a Viúva negra era o personagem menos popular da Marvel. Ela é a única do time original de heróis (sem filme solo, diga-se) e é uma gostosa de roupa colada e mesmo assim não tem credibilidade por parte dos homens. Se nem a roupa a está ajudando imagine o segundo filme A era de Ultron que afundou seu status ainda mais, a rebaixando como o par do Hulk e babá dele, que canta e bota ele para dormir. A imperatriz furiosa aparentemente late ordens para Mad Max, a Linsay Lohan que é tão bêbada e drogada quanto o Charlie Sheen nunca terá a reverencia que ele tem e que por ser mulher nunca se erguerá como Robert Downey Jr, (Hollywood adora uma história de superação, mas as mulheres deveriam se comportar melhor não é mesmo? aff) os salários das atrizes de Hollywood é tão mais baixo que o dos homens que fez a Meryl Streep virar meme e etc...



         Nos filmes com um elenco gigantesco de homens tem de haver uma mulher só para estar ali. Para que as feministas não reclamem. E na maioria das vezes o papel do “bendito fruto” é totalmente deturpado. Em Piratas do Caribe, por exemplo, Elisabeth Swann personagem da Keira Knightley deveria ser aventureira e destemida, ela até evolui em O baú da morte e o no fim do mundo, mas continuou sendo retratada como uma das pontas do triangulo amoroso, como a personagem chata que vive reclamando e que sacaneia o pirata anti-herói que todos amam. Vejam Kaya Scodelario que faz a Teresa em Maze Runner, ela está lá no meio de todos aqueles meninos simplesmente para compor a paisagem, pois sua personagem nada acrescenta a trama, além de fazer o protagonista se lembrar do próprio nome, não sei se as coisas melhoraram nos próximos filmes e enfim ela tenha alguma importância na saga. Kaya esteve recentemente no Brasil e foi questionada pelo Judão se o cabelo colorido era por que ela iria interpretar uma sereia no novo piratas do caribe. O Próprio Borbs se conscientizou da escrotidão de suas pergunta. Por que para se estar em piratas do caribe ou você é uma sereia ou a mocinha chata não é mesmo? (lembrando que zoe Saldana fez o 1° filme e era uma espécie de capitã mas logo desapareceu)
        A verdade é que os homens admiram mulheres como a Khaleesi, a katniss e etc... Mas eles querem em casa a Sansa, pois mulher forte e durona só na tela. É engraçado ver como as mulheres ficaram apaixonadas pela Amazing Amy enquanto os homens tiveram medo e a xingaram. Mas lembremos de que a Amy era uma esposa dedicada e a Sansa estava à mercê do jofrey só para proteger a família. Eu posso chorar porque um cachorrinho fofo morreu no filme e vibrar por que mataram aquele idiota da série. E não é por que eu sou mais princesa que eu não possa ser uma policial.



sábado, 5 de setembro de 2015

Review filme O Pequeno Príncipe


       Li O Pequeno Príncipe recentemente, você pode ler meu review aqui: http://speakcinema.blogspot.com.br/2015/07/mli2015-o-pequeno-pincipe.html e fiquei apaixonada pela simplicidade das palavras misturadas a complexidade da mensagem do livro. O filme traz todos os ensinamentos do livro e ainda ensina mais um pouquinho. Uma garotinha está prestes a entrar numa escola super conceituada e sua mãe traça um plano para que ela entre. Um plano tão disciplinado que faz a menina estudar extremamente. O foco é tanto que não sobra tempo para coisas de criança e nem amigos. Até que ela se muda e conhece seu vizinho, um velhinho atrapalhado que tenta fazer amizade com a menina. Ela reluta no começo, mas depois sede.
       A amizade do velhinho aviador e da menina é um verdadeiro contraste de idade. Ela se comporta como adulta, ela é a cópia da mãe, uma mulher tão fria e controladora que faz a filha ser como ela, retratando cenas absurdas como a de quando o aviador faz um buraco na parede delas e a menina já tem tudo sobre controle. Ligou para o seguro e bla bla bla, resolveu o problema como gente grande, da forma que a mãe ensinou. Qual criança pensaria nisso? Eu na situação dela me esconderia num canto e quando minha mãe me achasse falaria: não fui eu! O velhinho é o contrário, ele é louco e faz o que dá na telha. Tem um avião no quintal, dirige sem carteira e acumula velharia em casa. Tão diferente daquele aviador que conhecemos no livro. Um homem sério e incrédulo... sei que o pequeno príncipe o cativou na juventude, mas isso não implica na mudança de personalidade. Basicamente ele é a criança, divertida, brincalhona e sonhadora e ela é a adulta que faz inúmeras perguntas e é incrédula quanto a história do príncipe que lhe é contada.
       Só depois que o aviador cativa a menina que ela começa a ser criança novamente e age como deveria agir. O ponto alto do filme foi as reações dela ao conhecer a história do príncipe. Ao conhecer seu planeta, sua rosa, sua amiga raposa e tudo mais. É como nós quando lemos pela primeira vez a obra. Ao assistir o filme ficamos ansiosos por cada momento em que se retrata o livro, onde a animação moderna é substituída pela técnica stop motion nos escuros tons de amarelo do sol, no colorido das roupas do príncipe, do pelo da raposa, na grama verdinha e tantos outros detalhes tão ricos e agradáveis aos olhos. Diferente do cinza e preto da cidade e das roupas de mãe e filha.

       As partes em que se narra o livro são incrivelmente fieis ao mesmo. É claro que faltam alguns personagens, mas ninguém muito importante, os principais estão ali, retornando para o público. A raposa como era de se imaginar é mais “cativante” (oown) e é com ela que desce as primeiras lagrimas. A rosa não é tão onipresente quanto no livro, mas a passagem mais bonita do livro que envolve ela é retratada com muita beleza. “Ela é a sua rosa...” lembram?


       Na metade para o final há uma reviravolta que pode não agradar a todos. A menina e a pequena raposa de brinquedo são inseridas num novo cenário, como se fosse a vida atual dos personagens do livro e de como até o pequeno príncipe que antes parecia incorruptível, nesse universo utópico e paralelo vira outra pessoa. [spoiler] ele cresce e perde todas suas lembranças da infância, ele é um jovem fracassado, que vive sendo demitido e dá duro para continuar num emprego ruim (assim como tantos hoje em dia) também tem que lidar com as figuras autoritárias de seu passado que agora estão mais fortes e presentes. Essa ideia é meio frustrante de início. É tão triste ver um personagem tão idealizado sendo corrompido desse jeito, por um momento aquela esperança adquirida no começo do filme se esvaíra. Um banho de agua fria nos traz de volta a triste realidade que vivemos. E aí se aplica a frase “o problema não é crescer, é esquecer”, mas aí a esperança se reacende numa cena incrivelmente linda da retomada do tão amado príncipe na figura da criança que tanto amamos.
       Além dos ensinamentos próprios do livro o filme traz seus pensamentos e critica vários fatores da sociedade moderna. A figura do idoso abandonado, da mãe autoritária que pressiona a filha, o jovem no mercado de trabalho em crise e o crescimento acelerado infantil tão característico dessa geração. Crianças que perdem a infância tentando ser adultas e quando chegam a fase adulta tentam compensar essa perda agindo de forma infantil e inconsequente frente aos problemas da vida e situações cotidianas. Essas crianças que começam a namorar muito cedo, iniciam a vida sexual sem conhecimento algum, querem agir como donos dos próprios narizes saindo e desobedecendo os pais e fazendo uso da tecnologia tão precocemente. O mundo seria tão melhor se nas mãos das mesmas tivessem um livro ao invés de um tablet ou iPhone, seria tão bom se elas saíssem do facebook e fossem ler O pequeno príncipe e com esse menino tão adorável aprendessem que as coisas essenciais da vida além de serem invisíveis aos olhos fazem bem ao coração.