Que
horas ela volta? Seria mais um filme brasileiro que passaria despercebido pelo
meu olhar de telespectadora e critica. Como critica isso jamais deveria acontecer,
mas infelizmente acontece. As comédias padrão zorra total que tomaram conta do
cinema brasileiro ultimamente faz todo e qualquer amante do bom cinema torcer o
nariz para as produções nacionais. Fazia tempo que não surgia um “tropa de
elite” um “Cidade de Deus” ou mesmo um “central do Brasil” para nos fazer
retornar as nossas raízes. Que horas ela volta? É o que mais nos aproxima
atualmente desses títulos. Dado a quantidade de publico que foi levado ao
cinema impulsionado por uma possibilidade de indicação ao Oscar. Se for mesmo
indicado será merecidíssmo.
Com
roteiro e direção de Anna Muylaert o filme retrata o cotidiano da empregada
doméstica Val, (interpretada por Regina Casé que está tão diferente no papel
que em nada lembra a apresentadora do programa Esquenta) que mora no serviço e
vê as coisas mudarem quando Jessica (Camila Márdila) a filha que ela deixou em
Pernambuco vem para São Paulo para prestar vestibular de arquitetura.
Os
patrões de Val são Barbara (Karine Telles) e Carlos (Lourenço Mutarelli) que
aparentemente a tratam como “parte da família” mas cometem abusos que a própria
empregada encara como normalidades da sua função. Ela foi contratada como
serviçal e aprendeu a sempre chama-los de Sr e sra, (até fora do horário de
serviço) a nunca comer da mesma comida que eles, a pegar agua e sorvete para
eles até quando eles estão do lado da geladeira, a não entrar em hipótese
alguma na piscina e etc.... para Val essas atitudes são completamente normais
mas Jessica começa a fazê-la pensar de forma diferente. Fabinho (Michael Joelsas)
é o único da família que realmente respeita e trata bem Val. Até porque ela é a
representação de mãe para o menino que foi praticamente criado por ela. Já que
a mãe e o pai sempre trabalharam muito para preservar seu patrimônio e serem
cada vez mais ricos.
O
filme é uma critica a relação empregado x patrão. É uma critica a uma categoria
de trabalhadores tão desprezados e desvalorizados. Que fazem tudo pelos patrões
e por seus filhos, mas não obtém reconhecimento. E o pior de tudo é que existem
muitas Val’s por ai que aceitam essa condição e acham que esse é seu papel na
sociedade. Que está tudo bem não ser ouvida, não ser respeitada, não ser
tratada bem, a trabalhar duro para receber pouco e ouvir reclamações. Afinal
elas são contratadas para essa função não é mesmo? Fazer tudo na hora que o
patrão quiser sem reclamar e com um sorriso no rosto porque o pão está na mesa
todo mês. Quando essa triste realidade mudará?
Regina
retorna com uma excelente atuação, que lhe rendeu prêmios e mostrou quão boa e
verdadeira é sua performance. Seu rosto passa todas as inseguranças de Val. E
posteriormente todo seu descontentamento. Karine Já tem cara de patroa
entojada. E suas expressões de desaprovação eram ótimas. Camila com um sotaque carregadíssimo
apesar de novata também se saiu muito bem como Jessica que quebrou o tabu de
menina boba e burra do interior. Ela era decidida, segura e inteligente. Uma
menina que foi pra São Paulo estudar e não trabalhar igual a mãe. (Para
surpresa da patroa). Ela é igual a Fabinho, só que ele é um menino rico e
mimado (porém carinhoso) que estudou nos melhores colégios. Em um momento Val
até comenta que Jessica é metida, sem saber que ela era apenas realista e não
abaixava a cabeça para aqueles que nem sequer eram seus patrões.
Que
horas ela volta? É o tipo de filme que toca na ferida e que faz salariados como
nós nos identificarmos com várias situações. Independente da profissão. Eu
mesma me identifiquei bastante com os mandos e desmandos sem sentido dos
patrões e percebi que já fui muito “Val” agora sou mais “Jessica” a frase “da
família” já foi mencionada no meu emprego e aos poucos fui vendo o meu lugar
nessa “família” e é o mesmo que o de Val, alguém que está ali só para servir. Tomara
que com esse filme o cenário comece a mudar e as empregadas vejam que elas têm
o seu valor e que elas devem se impor sem medo de sofrer represálias ou serem
demitidas.
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