quarta-feira, 29 de março de 2017

Estranha e metida, eu?


          Quando fui assistir La La Land (sozinha) na hora de comprar o meu ingresso a menina da bilheteria que estava me atendendo de forma bem simpática, disse assim que me entregou o ingresso: “Me desculpa, esqueci de avisar que o filme é legendado” e eu retribuindo o sorriso falei: “tudo bem, foi por isso mesmo que eu comprei” e nesse momento a expressão dela mudou, ela deu um até logo bem sem graça e partiu para atender o próximo. Por que isso aconteceu? Na hora nem eu entendi direito. Por que dizer que queria assistir um filme legendado incomodou tanto ela? Eu estava sorrindo quando falei aquilo. Mas ai me veio a memória todas as expressões confusas e desdenhosas que já levei ao expor os meus gostos e preferências ao decorrer da vida.
             Quem gosta de cinema, série, quadrinhos ou qualquer outra coisa relacionada a cultura pop já se sentiu intimidado pelas expressões faciais citadas acima. Caras tortas de pessoas que não entendem bem os nossos gostos ou que nos julgam por eles. Hoje em dia a quantidade de pessoas que admiram essas coisas é enorme, prova disso são as comic cons lotadas pelo mundo. Mas em nosso meio (ou pelo menos no meu) sempre há aquelas pessoas que não nos compreendem. Que nos acham estranhos, idolatras (experimente gostar dessas coisas sendo cristã, é difícil) ou infantis.
          Recentemente me deparei com duas personagens (bem parecidas por sinal) que me inspiraram para escrever esse texto. Uma delas é a Bela de A bela e a fera. A personagem é classificada como “estranha” por que gosta de ler e por que não tem o casamento como o maior sonho da vida dela (diferente das outras princesas). Tanto na animação de 1991 quanto na versão Live Action desse ano, ela se sente menosprezada pelas pessoas que falam isso dela, tanto que ela pergunta ao pai se ela é assim, por que por mais que ela seja segura de si essas coisas incomodam. E sabemos que às vezes nos incomodam também.  Ela é a Bela, mas não é recatada e do lar (desculpem a analogia podre rs) ela quer sair por ai e se aventurar, mas por estar inserida em um mundo muito pequeno e limitado seu único jeito de viajar é pelas paginas dos livros.
           Então imagina conhecer um homem (nesse caso uma fera) que tenha milhões de livros! Ela fica deslumbrada. Mesmo que inicialmente ele seja um grosso sem paciência (seja por conta da Fera nele ou não) e ainda há a discussão a cerca da síndrome de Estocolmo onde a vitima se apaixona pelo seu sequestrador e também sobre ela estar inserida em um relacionamento abusivo pois em algumas cenas ele grita com ela. Tudo isso é bem problemático, pois dá esperança a muitas mulheres vitimas de abusos. Mesmo amando o filme não posso fechar meus olhos para isso. Mas esquecendo dos problemas, vemos que Bela é tachada de “diferente” por causa dos seu apresso pela literatura.
          Uma coisa que gostei bastante nesse Live action é o fato deles discutirem sobre alguns livros, o que não acontece na versão original. Quantas vezes já ouvi comentários negativos só por que tenho o habito de ler bastante. Com a faculdade de Letras e a indicação de livros clássicos esse habito só intensificou. Quero ler Guerra e paz, os miseráveis e Anna Karenina tudo ao mesmo tempo, todos calhamaços, por que meu amor pelos livros está mais voraz do que nunca. Nunca fui tão Bela ou tão a personagem que citarei a seguir.


          E a personagem é Rory Gilmore da série Gilmore Girls. Quando criança eu assistia alguns episódios esporadicamente na TV e agora que ela entrou no catalogo da Netflix e ainda teve um revival comecei a assisti-la de verdade e no começo estava difícil me prender a série, mas logo aprendi a me apegar justamente por causa da Rory e seu gosto pela leitura. Ela lê muito, muito mesmo, tanto que fiz questão de participar do Desafio literário Rory Gilmore e tenho a minha “listinha” de livros citados por ela na série que lerei ao decorrer da vida. Mas não foi apenas seu apreço literário que me fez incluí-la aqui.
          [ALERTA DE SPOILER] Estou na 4° temporada de Gilmore girls e nessa parte ela passou em Yale e por conta disso os habitantes de Stars Hollow, começaram a achar que ela não está mais se envolvendo nas atividades da cidade por que está metida por ter passado em uma universidade de prestigio. E boa como a personagem é, ela fica se desdobrando para estar em todos os lugares e provar que não mudou. Mas e daí se mudou? Pessoas mudam. Adquirem novas e maravilhosas responsabilidades.
            Então parem de achar que uma pessoa é metida, soberba ou estranha só porque elas preferem assistir filmes legendados, porque querem se dedicar aos estudos ou  gostam intensamente de filmes, livros, séries, HQs e qualquer outra coisa. Não achem que uma pessoa é estranha só porque tem um gosto diferente do seu. Só porque ela prefere ouvir a trilha sonora de um filme do que um sertanejo universitário ou musica gospel. Por que ela acha Oamante de Lady chatterley mil vezes mais excitante do que 50 tons de cinza (eu mesma). E para pessoas com os mesmos dilemas que eu, eu digo, viver cercado de pessoas que acham que Comic con experience é acampamento da igreja é muito chato, mas faz parte, não se sinta mal por você amar essas coisas.  Muitas vezes só queremos um tempo a sós para curtir as coisas que amamos, só queremos maratonar O poderoso chefão comendo biscoito e sendo feliz.

2 comentários:

  1. Oi! Então somos todos estranhos aqui em casa, junto com você, porque só assistimos filmes dublados quando não há mais entrada para o filme legendado. Não liga para esses doidos aí, que brincam de Deus e julgam os outros. Beijo em você.
    www.dicasdaclau.com

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