Wolverine
sempre foi um personagem conhecido por sua força e sua brutalidade, mesmo que
nos outros filmes a violência não seja tão escancarada como é nesse, nós reconhecíamos
essas características do personagem. Os fãs de quadrinhos então são mais
familiarizados ainda. Os que assistiram (assim como eu) o desenho X men
evolution no SBT (na hora do almoço, ah que saudade) também conhecem esse lado
do herói. Agora você pensa num filme em que esse personagem está destruído,
derrotado, humanizado... Esse é Logan, o filme que dentre muitos aspectos te
ganha pela dor e pela emoção.
O
filme se passa em 2024 e nesse futuro os mutantes estão praticamente extintos e
uma instituição está transformando crianças mutantes em assassinas por isso
Logan e professor Xavier devem proteger uma dessas crianças, a X 23, dos vilões
que estão atrás dela.
A
humanização do herói começa pelo titulo do filme, que já não é mais “Wolverine”
e sim Logan, o ser humano que se esconde dentro do herói. E no começo já dá
para perceber que as coisas estão diferentes. O futuro é sujo e empoeirado e
Logan está trabalhando como motorista de limusines. Ele anseia por uma vida
normal, mas ele sabe que isso não é possível.
Ele
e outro mutante chamado de Caliban tomam conta de um Charles Xavier debilitado,
magro e com alzheimer. Para nós fãs que acompanhamos os filmes dos X men desde
o começo é pesado ver o Xavier daquela forma. Tanto que particularmente sofri
mais com esse personagem do que com o próprio Logan. Charles é o mutante mais
poderoso do mundo graças a sua mente, mas aqui está apenas um velhinho acamado
e gagá. É a mesma coisa de ver aquele seu avô que era forte e cheio de saúde mas
agora está doente e a beira da morte. A minha sensação foi essa. O embrulho no
estomago e o aperto no peito por causa dele permaneceu durante todo o filme.
O
Patrick Stewart está sensacional nesse filme, essa é realmente sua melhor
atuação como Charles Xavier. Ele perdeu 10 kgs para fazer o personagem e todo
seu sofrimento é bem aparente. Ele forma a dupla perfeita com Hugh Jackman que também
está em seu melhor momento. A culpa e a dor que Logan carrega refletem em sua aparência
física, Hugh parece uns 20 anos mais velho do que realmente é, os seus traumas
do passado estão presentes nas feridas que não se cicatrizam, no cabelo grisalho,
na vista avermelhada e na aparência cansada. Os laços dos dois personagens se
estreitam ainda mais nesse filme, fazendo parecer como se os dois fossem pai e
filho.
A
Novata Dafne Keen foi um tiro no alvo como a mutante Laura. A menina é incrível
e encanta tanto em sua atuação como uma criança calada quanto nos momentos de
porradaria quando ela chuta a bunda de todos os vilões. Há uma força e energia muito
grande nela. Ela é ótima quando está silenciosa, quando é agressiva com Logan e
quando briga com os vilões. Mesmo com a pouca idade ela encontrou o tom da
personagem.
A
relação da menina com os personagens principais é muito interessante. De um
lado temos uma versão doce dela ao lidar com Charles, como uma neta e seu avô e
do outro temos ela e Logan onde os dois brigam bastante, mas há um afeto não
dito.
Os
grupo de vilões é encabeçado pelo capanga Donald Pierce interpretado pelo ator
Boyd holdbrook, que faz um bom personagem e até trás diálogos bem humorados
algumas vezes.
Um
personagem de quem gostei bastante é do “babá” do Xavier, o Caliban
interpretado pelo ator de comédia Stephen Merchant que está ótimo como o mutante
que é uma versão de nosferatu (como ele mesmo diz) dos mutantes. Ele é bondoso,
preocupado e fiel aos seus companheiros, e essa fidelidade gera uma cena
maravilhosa.
No
cinema onde assisti só havia copias dubladas e posso dizer que a dublagem está
excelente. A voz do dublador Isaac Bardavid é sempre bem vinda ao personagem, e
seus momentos com o Hugh Jackman aqui no Brasil estão emocionantes. A voz dele
sempre ajudou a acentuar a maturidade que o personagem exigia, mesmo nos
primeiros filmes onde nem a cabeleira e as costeletas de Jackman conseguiam
envelhecer sua carinha de bebe. Outra voz que estava muito boa na versão dublada
era a voz do Caliban, ela colaborou ainda mais na empatia pelo personagem.
O
filme tem ótimas sequencias de ação, às vezes interruptamente, mas isso não o
torna cansativo. São cenas muito bem coreografadas, mesmo que visivelmente esse
não seja o foco do longa e sim no drama em si.
Logan
é um filme poderoso em diversos aspectos. Ele dá poder a uma menina com raízes latinas.
Aborda a velhice em seu pior aspecto, o que é interessante já que não
conhecemos os mutantes nessa fase da vida. Mostra uma versão esgotada do herói depois
de anos salvando vidas, mostra também uma versão paternal de Logan e Xavier e
comemora a morte como alternativa de paz e descanso e não de algo ruim como a maioria
das pessoas a veem. O diretor James Mangold e Hugh Jackman encerram com chave de
ouro a passagem desse personagem tão querido e icônico no cinema, esse é sem
duvida o melhor filme com o personagem e um dos melhores e mais reais filmes de
herói de todos os tempos. A dor e a saudade são definitivamente sentidas. Esse
filme é um “adeus” e ao mesmo tempo um “pra sempre”.
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