Classificado
como comédia no Globo de ouro, esse filme está mais para um drama cheio de
personagens problemáticos (mas não no sentido de má construção) que agem de
forma tão absurda que faz algumas cenas parecerem cômicas de tão improváveis.
O
filme acompanha a vida de Tonya Harding, uma ex-patinadora dos anos 90 que teve
altos e baixos na vida e na carreira.
Tonya
foi uma patinadora impressionante, o filme mostra como desde nova ela tinha
paixão pelo que fazia e mesmo que a mãe a pressionasse muito, ela gostava de
patinar e desde muito nova já estava nas pistas de gelo. Seus movimentos no
esporte com certeza inspiraram muitas patinadoras pelo mundo, mesmo que ela não
seja tão conhecida assim no mundo fora dessa modalidade (pelo menos não por mim
e pelas pessoas que conversei), mas toda sua dedicação e amor pela patinação
trazem como pano de fundo uma vida muito triste e relacionamentos conturbados.
Quando
criança a menina é abandonada pelo pai e vive com uma mãe abusiva, que a
machuca e explora seus talentos, e por conta disso ela se casa muito nova com
Jeff, um homem que também é agressivo com ela. Em certa cena através do recurso
da quebra da quarta parede ela chega a afirmar isso, que se a mãe a batia, mas
a amava, o marido fazia o mesmo. Ela aceitava uma condição que para ela era o
normal, tanto que quando uma das suas colegas de competição se machuca e todos
ficam preocupados ela não entende o porquê do estardalhaço, pois ela apanhou a
vida toda e está “bem” com isso.Essa quebra da quarta parede é uma das coisas mais incomodas do filme e que o faz perder alguns pontos. Se há entrevistas, para que usar a quebra? Fica exagerado e expositivo, com o tempo as piadas obvias vão perdendo a graça e se tornam too much.
Outro
recurso a se queixar é o CGI empregado nas cenas de patinação, era visível o
copia e cola ali, com o rosto da Margot Robbie nos movimentos da patinadora. Só
algumas cenas mais simples que dá para perceber que é realmente a Margot, mas
nos movimentos mais radicais temos outra pessoa, antes tivessem investido em
perucas e formas de esconder o rosto dela nessas cenas, como aconteceu em
Flashdance, (aliás, aqui também há a famosa musica Gloria que faz parte da
trilha de Flashdance e que é tocada quando a amiga da protagonista do filme dos
anos 80 participa de uma competição de patinação no gelo) Contudo na parte de
figurino e maquiagem não há do que reclamar, a própria maquiagem exagerada que
Tonya usava estava ali.
O
elenco está excelente. Margot Robbie desde seu primeiro trabalho provou que é
muito mais do que um rosto bonito, ela atua com muita paixão e nesse filme
equilibra bem os dramas pessoais e a loucura da personagem. Sua mãe abusiva é
interpretada por Allison Janney, que é uma atriz que faz muitas comédias, mas
que arrasa na mesma proporção fazendo drama, finalmente está tendo a
visibilidade que sempre mereceu, ganhou o Globo de ouro e provavelmente levará
o Oscar. Ela interpreta muito bem essa mãe desprezível e cruel. Outro que está
ótimo também e que merecia uma indicação é Sebastian Stan (a melhor pessoa das
fotos de comic con) que aqui também tem sua chance de provar o quão bom ele é
(e também não só um rosto bonito) ele é outro personagem desprezível que faz
coisas horríveis para e pela Tonya. A atriz Mckenna Grace que interpreta Tonya criança
também está muito bem, mesmo em poucas cenas, sua performance está na sua
maturidade em frente as situações, mesmo com sua pouca idade.
A
direção é de Craig Gillespie que antes foi bem sucedido com seu filme A Garota
ideal (que tem mini review lá no instagram do blog) e que são filmes
completamente diferentes, mesmo que em ambos tenham personagens peculiares, A
garota ideal tem uma estética e narrativa completamente diferente. O roteiro é
de Steven Rogers mais conhecido por roteiros de filmes românticos como Ps: eu
te amo e Quando o amor acontece.
I
Tonya talvez não seja o melhor filme da temporada de premiações e se comparado
há alguns filmes de esporte a sua estrutura é a mesma, a não ser o final que
diverge dos finais vitoriosos que estamos acostumados, e apesar de todas suas
falhas e de não se aprofundar nos podres do mundo da patinação (quando o maior
podre é causado por um dos personagens de fora) é um bom filme que mostra a
realidade de pessoas desajustadas e a luta pela independência de uma mulher que
só queria ser respeitada como pessoa e patinadora.
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