Com
uma mistura de conto de fadas, filme de monstro e homenagem ao cinema, A Forma
da água é talvez o filme do Oscar que mais se aproxima do grande publico, ao
mesmo tempo em que pode repelir alguns graças à sua coragem de insinuar sexo
entre espécies diferentes e tratar com naturalidade coisas como a masturbação.
Além das criticas sociais que ele traz. Porém, a beleza do filme é inegável,
tanto em sua estética caprichada, quanto na estória contada.
Elisa
é uma mulher muda que trabalha em um laboratório e lá seu patrão inescrupuloso
mantém em cativeiro um homem anfíbio por quem ela se apaixona e planeja a fuga
dele.
Mesmo
que The Shape of Water seja considerado um conto de fadas moderno, aos moldes
de A Bela e a fera, a mocinha em questão não é tão inocente e indefesa como nos
filmes da Disney e nos livros infantis. Ela é sim uma moça tímida
(principalmente por causa de sua deficiência) e sonhadora. Ama musicais e
provavelmente sonha com um amor que ela vê nesses filmes. Contudo, mesmo sendo
inocente ela não deixa que homens cruéis se aproximem dela e apesar do medo ela
os desafia.Ela também tem o domínio do seu próprio corpo. Ao que tudo indica ela é virgem, mas mesmo assim ela se conhece através do toque, que ela faz todos os dias e dentro da banheira, o que já aponta sua conexão com a água.
Sally
Hawkins está incrível como Elisa, a inocência e a bravura da personagem são
transmitidas muito bem, ela também está ótima fazendo o uso da Libras. Sua
amiga de trabalho Zelda, interpretada pela Octavia Spencer, é o oposto dela,
pois fala pelos cotovelos, a conexão entre as duas é muito interessante, é como
se elas se completassem.Elas se ajudam no ambiente de trabalho e se unem contra
seu patrão carrasco, interpretado pelo Michael Shannon, que tem cara de vilão e
adiciona mais um ao seu currículo, e ele interpreta com tanta verdade que nos
faz odiar esse homem racista e sádico.
Um
personagem que é muito querido e que expõe outra forma de preconceito é o
melhor amigo gay de Elisa, muito bem interpretado pelo Richard Jenkins que faz
um personagem adorável, mas que assim como sua amiga também esconde o que ele é
por medo da sociedade. Michael Stuhlbarg também faz parte do elenco e é
realmente o melhor coadjuvante dessa temporada de premiações, também está em Me
Chame pelo seu nome. A criatura é interpretada pelo ator Doug Jones, (que é o
Andy Serkis da maquiagem) que trabalhou anteriormente com Guilhermo Del toro em
O labirinto do Fauno e Hellboy.
Del
toro é responsável pelo roteiro, pela direção e pelo visual do filme, que é semelhante
ao de alguns filmes que ele já fez, mas diferente em certos pontos também. Este
está mais sofisticado e mais romântico, a pegada gótica tão característica de
seus projetos não é tão grande aqui, mas também não é inexistente. Sua criatura
é bem parecida com a de Hellboy e a maquiagem é perfeita em cada detalhe. Toda
a parte artística do filme é impecável, o figurino, os cenários e etc... a
trilha sonora composta pelo Alexandre desplat é clássica e belíssima.
A
Forma da Água é um filme encantador, com visual deslumbrante e atuações
acertadas. Não inova no roteiro, pois segue a narrativa clássica de uma fábula
e também expõe muito explicitamente preconceitos aos negros e aos homossexuais,
essa falta de sutileza pode soar como algo superficial que foi encaixado para
mostrar que está falando de assuntos das pautas atuais, porém, funciona como
gatilho de revolta e nos irritam as atitudes mostradas. Se Guilhermo ganhar o
Oscar vai ser extremamente merecido, pois esse é um dos contos de fadas atuais
mais belos.
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