quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Review filme Um cadáver para sobreviver


         Fazia tempo que não se via um filme tão bizarro assim, com uma premissa tão diferente e que usa elementos como “peidos” para criar metáforas. Esqueça tudo que você já assistiu e assista aqui (no caso na Netflix, pois já está disponível lá) a um filme que apesar da infantilidade (sentido perjorativo da palavra) é totalmente inovador e que diverte.
         Em Um cadáver para sobreviver Paul Dano é Hank um homem perdido numa ilha e que está prestes a se suicidar, mas encontra um cadáver que vai mostrando ter habilidades especiais e ele o usa para sobreviver e voltar para a casa.
          Bom, essa é a sinopse, mas o filme toma seu próprio rumo e se mostra diferente do que foi vendido. Quem dirige esse filme são os novatos irmãos “Daniels” Dan Kwan e Daniel Scheinert e eles disseram em uma entrevista que esse filme é uma mistura de tudo que eles odeiam, Como filmes com flatulências e filmes musicais. E com genialidade eles conseguem criticar esses elementos e ao mesmo tempo subverter eles.

          Em um dos pensamentos do cadáver ele diz “Se meu melhor amigo esconde os puns de mim, o que mais ele está escondendo de mim?” esse não é o melhor dialogo para ilustrar as famigeradas metáforas com peidos, na verdade esse é um dos diálogos idiotas presentes no filme e ele tem sim alguns, assim como algumas falas clichês também, mas ai depois desse pensamento contemporâneo ele acrescenta “e por que esse pensamento me faz se sentir tão solitário? Como você esconde seus pensamentos? E por que temos que esconder tudo?” E é aqui que o roteiro quer chegar. Os puns são apenas uma ponte para reflexões mais profundas, são catalisadores utilizados para que todos entendam o que os diretores (que também são os roteiristas) querem transmitir.
         Diferente de filmes pastelões que utilizam os peidos como humor (e muitas vezes falham nisso) esse o usa como metáfora para a solidão, aceitação e enfrentamento dos problemas, os tornando no fim de tudo uma coisa natural e boa para o ser humano. O que mostra o quão promissores são esses irmãos.

         O ódio aos musicais (sério, como alguém consegue odiar musicais?) é explicitado nas cenas em que há introdução de musicas em momentos inoportunos, como temos que admitir que acontece na maioria dos musicais. E também em como Hank se irrita quando Manny,o cadáver, começa a emitir sons, ao mesmo tempo que os dois começam a cantarolar quando não deveriam. A critica aos musicais aqui é aceita até pelas pessoas que amam musicais, assim como eu, mesmo que eu ache superficial demais rotular o gênero musical dessa forma, o diminuindo a apenas essa característica quando na verdade os musicais são muito mais do que apenas cantar e dançar em momentos errados.


        As atuações dos protagonistas são um deleite. Paul Dano é um ator que o grande publico não conhece, só os cinéfilos mesmo, e desde sempre ele faz papeis de caras estranhos em filmes pequenos, só que na maioria filmes bons e essa escolha pessoal dele só aprimora ainda mais sua atuação, o que é evidente nesse filme já que ele está excelente. Quem parece querer trilhar esse caminho também é seu companheiro de filme e amigo morto interpretado pelo Daniel Radcliffe que é conhecido mundialmente como o Harry Potter, mas que depois que se encerrou o projeto vem fazendo filmes menores e alguns muito bons, mesmo quando são comédias bobinhas. Em sua atuação ele é bem limitado, sempre foi, mas está fazendo a escola Paul Dano e se aprimorando, tanto que esse é seu melhor desempenho até agora, mas não pensem que interpretar um cadáver é fácil, dar expressão e vivacidade a algo que está morto é uma tarefa árdua, mas ele conseguiu.
          Uma das melhores coisas do filme é a relação construída entre seus protagonistas, uma amiga que assistiu ao filme disse: “Eu acabei de ver um bromance de necrofilia?” e ficou dividida entre amar e odiar o filme, o achou ridículo e constrangedor, mas gostou e disse que valeu a experiência e é isso que esse filme trás, o desconforto e o sorriso na mesma proporção, assim como nas cenas dramáticas onde há sentimentalismo e existencialismo dentro de cenas e diálogos nonsense. O final é bem ambíguo, não se sabe o que realmente aconteceu, pessoalmente acho que o cadáver nunca existiu, ou se existiu era apenas um cadáver qualquer, e hank se apegou a ele, pois ele era uma versão dele mesmo, que estava morto por dentro e só queria uma companhia, alguém que o amasse.
        Para assistir Um cadáver para sobreviver é preciso mente aberta, não desanime por causa da sequencia inicial como vi muitas pessoas nos comentários na Netflix, talvez você o odeie, mas feliz é quem abraçou a ideia do filme e mesmo em seu desconforto admitiu a coragem dele. Além dos peidos já destrinchados anteriormente também há ereção, e elas servem como uma bússola que aponta para Sarah, o crush de Hank, usar o penis como analogia para o romance inalcançável, além dos diálogos comparando a sensação da masturbação com outras sensações boas que o ser humano tem é a prova de como a mente criativa dos irmãos “Daniels” funciona. Esse filme tem ótimas atuações, metáforas com coisas fisiológicas tratadas com nojo pela sociedade, um bom roteiro, uma boa edição (mesmo nos flashbacks malucos) boa direção e a mensagem de que o ser humano só quer amar e ser amado quer se apegar a algo ou alguém. E para Hank um personagem solitário e com graves problemas psicológicos houve a necessidade de um cadáver lhe mostrar o que é viver.

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