sexta-feira, 25 de março de 2016

Review Zootopia - Essa Cidade É O Bicho


          Está sendo uma época muito boa para nós adultos irem ao cinema ver desenhos. Já que agora a Disney unida a pixar está investindo muito mais em contar uma boa historia, com bons ensinamentos e abordagem de temas sérios e preocupantes. É claro que as crianças não conseguem captar tudo isso, elas estão lá apenas para rir e achar tudo colorido e fofo (e eles estão caprichando nisso também) enquanto nós adultos rimos, choramos, aprendemos, apontamos problemas da sociedade e no fim aplaudimos toda essa montanha russa de emoções.
          Zootopia conta a história de Judy Hoops uma coelhinha fofa (ops, não posso chama-la de fofa pois só coelhos podem chamar um ao outro de fofos) que se muda para a cidade de Zootopia para ser policial. Lá ela enfrenta vários desafios e conhece Nick Wilde uma raposa trambiqueira.
          O filme é menos emocionante do que Divertida mente por exemplo, mas a mensagem é tão importante quanto. Enquanto no filme anterior o assunto principal é a depressão, nesse o assunto em pauta é o preconceito, algo tão debatido e polemizado atualmente. A própria parte em que Judy chega na cidade e fala sobre quem pode ou não pode chama-la de fofa já é o começo da discursão. Recentemente aprendi que em um debate em grupo, tanto na escola, na faculdade, em grupos de Whatsapp, facebook e afins se o tema a ser discutido é algo que não é da sua alçada, ou seja, é algo que não condiz com a sua realidade você não pode tomar a frente para discutir. Por exemplo, eu sou uma mulher branca que apoio o feminismo, se mulheres negras feministas tiverem discutindo sobre coisas que elas sofreram eu tenho que fazer a “Gloria” e não ser capaz de opinar, até porque mesmo eu sendo mulher eu não passei pelos mesmos tipos de preconceito que elas passaram (aprendi isso inclusive com um vídeo no youtube) e isso que o diálogo do filme significou para mim. Mesmo que haja um “Pré-conceito” não cabe a mim reforça-lo. Posso apoiar a causa e defende-la, mas não opinar em algo que não vivenciei.

          Cada animal do filme é retratado da forma que enxergamos eles. Judy é policial mas deveria estar trabalhando no ramo de cenoura que é o que a família quer, eles até torcem pelo fracasso dela para que ela não venha passar por perigos na nova profissão, quantos pais não são superprotetores assim? A raposa é traiçoeira, o Leão é autoritário, o bicho preguiça é.... preguiçoso! E assim por diante. Inclusive as preguiças do filme trazem a sequência mais engraçada do filme inteiro. No filme não há mais animais “selvagens” pois todos vivem em sociedade. Porem algo está fazendo os animais voltarem a selvageria e aí entra a aventura e o clima investigativo da animação, a coelha e a raposa vão atrás dos responsáveis pelo sumiço desses animais. A nível de curiosidade Nick foi inspirado no Robin Hood da animação da Disney de 1973, onde o personagem era outra raposa esperta. Assim que botei meus olhos nele o desenho que tanto assistia na infância surgiu em minha mente.


              O roteiro é muito bem desenvolvido nessa parte investigativa da trama o que faz do filme muito mais do que um desenho com uma historinha superficial e simplória. A aventura da nova dupla pode afastar os pequeninos que procuram só risadas descomprometidas. Uma criança ao meu lado estava implorando para que a mãe deixasse ela dormir. O visual também é primoroso e rico em detalhes bem trabalhados. Principalmente nas cidades por onde Judy passa até chegar a zootopia. A trilha sonora também é boa e a música da Shakira fica na cabeça. A cantora por acaso faz a personagem Gazelle.
          Portanto não espere altas risadas durante essa animação, as vezes elas até acontecem (principalmente por parte do tigre recepcionista e das preguiças) mas isso não é a prioridade, ela fica a cargo da investigação e o mistério da animação, o que nos deixa muito mais entusiasmados do que gargalhadas sem sentido (o menino ao meu lado no cinema deve discordar) espere muitas referências divertidas, como o desenho de uma cenoura no celular de Judy ao invés da maça da Apple, um dos animais imita perfeitamente Don Corleone de O Poderoso Chefão dentre outras coisas e o mais enriquecedor é a lição de moral que complementa mais essa obra assertiva. Muitas vezes nos comportamos como as pessoas nos veem, assim achamos que devemos viver conforme fomos predestinados, sentimos que não devemos arriscar e melhorar, apenas dançamos conforme a música, contudo a letra dessa música pode estar equivocada. Somos muito mais do que pensamos e do que as pessoas esperam podemos fazer o que quisermos e a aqui a Disney reforça mais uma vez o ideal de que “sonhos podem virar realidade” talvez as pessoas te vejam como uma raposa traiçoeira e nada mais do que isso, mas por dentro você é um tigre esperando para rugir alto ou uma lebre assustada querendo apenas se encaixar. Você é o que quer ser e não o que a sociedade diz que é.  

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