Esse
foi meu primeiro contato com Lygia Fagundes Telles e confesso que à princípio
senti uma certa estranheza em seus contos. Não há dúvidas de que ela é uma
excelente contista e que apesar de lançado há muitos anos seus contos tem uma
fluidez admirável. Até as palavras mais cultas são facilmente interpretadas,
assim como as gírias do passado. Porém fiquei confusa com o encerramento de
cada conto. Eles terminavam de uma forma tão simples e aparentemente sem
significado que me perguntava se havia perdido alguma coisa. Ficava buscando na
minha mente uma interpretação para o término sutil de cada um e não sabia o que
eles realmente queriam dizer, isso se eles tinham como proposito dizer alguma
coisa, até que minhas dúvidas em relação a isso foram sanadas no mesmo livro.
No
final do livro depois que os contos se encerram há breves explicações dos
contos de Lygia, mais precisamente os que se destacaram. E olha que Lygia tinha
60 textos em mãos e teve que peneirar apenas 16 para a edição de O baile verde
lançada em 1970. Nessas explicações que parem uma espécie de resenha os autores
parecem carecer do entendimento dos desfechos dos contos assim como eu, e assim
como muitas pessoas que já leram este livro. Além dessas “resenhas” ainda há
uma carta cheia de elogios de Carlos Drummond de Andrade, seu amigo e outros
depoimentos.
Os
contos de Lygia trazem quase sempre personagens amargurados e solitários de classe
média alta. Sempre em situações que começam calmas e depois descambam para o
desespero como em A Ceia. Há uma certa atenção aos objetos da narrativa e como
eles significaram ou podem significar algo para alguém, como o famoso saxofone
que parece interligar dois contos, são eles: Apenas um saxofone e O moço do
saxofone. Apesar da felicidade aparente eles sofrem por algo ou alguém e sabem
de segredos que o outro personagem da narrativa nem desconfia como no caso do
conto As Pérolas e em O menino. Há também os contos com elementos misteriosos e
sobrenaturais, como Natal na barca e Venha ver o pôr do sol, dois que eu
particularmente gostei muito graças a esses elementos. Os anões da pensão
também soam místicos. E há também críticas sociais, como no conto que dá nome
ao livro, em Antes do Baile verde a mulher vive um dilema, ela está fantasiada
e pronta para ir para o carnaval, enquanto seu pai está convalescendo na cama. No
meio das pessoas ela mostrará uma felicidade aparente pulando carnaval enquanto
em casa há tristeza pela situação do pai. Essa é uma realidade dos brasileiros
que só vivem de aparência.
O
conto que eu mais gostei foi o último, intitulado de O menino, ele é o mais
explicativo e o que traz a traição como uma realidade que pode deixar marcas.
Nele não há coisas sobrenaturais e nem coisas que ficam no ar, não há o que se
descobrir, temos seu encerramento em mãos e ficamos perplexos com seu
resultado. O conto começa com o menino (que não possui nome) admirando
profundamente sua mãe que se arruma para ir ao cinema com ele, no caminho ele
quer exibir sua mãe para os amigos, essa mãe que ele considera a mais bela e a
melhor de todas, a mulher perfeita, tanto que quer casar com uma mulher igual a
ela quando ele crescer, sua admiração é tanta que vemos um complexo de édipo
ali. No cinema se senta um homem ao lado de sua mãe, ele não o conhece, mas a
mãe conhece muito bem e durante a sessão eles trocam carinhos e gestos de mãos,
o menino fica perplexo com a situação, até porque sua mãe é casada e então
começa a enxerga-la de outra forma, não quer mais andar de mãos dadas com ela,
não quer mais exibi-la para ninguém, ele quer chegar em casa para ficar com o
pai feio. Sua afeição é transferida graças a um ato visto por ele como
imperdoável.
Todos
os contos da autora são maravilhosos e podemos aprender com cada um, é certo
que gostei mais de uns do que de que outros, o A caçada e Um chá bem forte e
três xicaras não me empolgaram tanto na leitura quanto os outros. Mas de todos
dá para absorver alguma coisa. Se assim como eu você nunca leu nada da autora
sugiro que também comece por esse, vou encerrar com uma citação que Lygia fez
em uma entrevista e que me marcou bastante: “O escritor pode ser louco, mas não
enlouquece o leitor, ao contrário, pode até desvia-lo da loucura. O escritor
pode ser corrompido, mas não corrompe. Pode ser solitário e triste e ainda sim
vai alimentar o sonho daquele que está na solidão”
Apesar dos contos dela terem muita triste, pelo menos me passou isso. São cheios de reflexão também.
ResponderExcluirGosto de livros de contos porque te permite a gostar de pelo menos um texte tema abordado.
Vou procura saber ais da autora.
Beijinhos, Helana ♥
In The Sky, Blog / Facebook In The Sky
Não conhecia este livro, mas conheço a obra da autora, ela escreve muito bem!
ResponderExcluirLivros de contos geralmente nos trazem pontos reflexivos, e os textos da autora tem este mesmo proposito.
Adorei sua crítica, ficou excelente!
http://blogliteraturanacional.blogspot.com.br/
Olá!
ResponderExcluirEu adoro a Lygia!!
Quando comecei a ler também me senti um pouco confusa, a escrita é bem reflexiva.
Geralmente é assim mesmo, um conto acaba agradando mais que o outro. Esse ainda não li dela, mas está na lista.
bjs
Fernanda
http://pacoteliterario.blogspot.com.br/
Nunca li nada da autora, mas pretendo mudar isso em um futuro próximo. O fato de alguns contos não possuírem um desfecho mais concreto me desanima, mas gosto dos temas e da melancolia e tristeza presente nos textos dela. Adorei seu post! Ficou ótimo.
ResponderExcluirBeijos
http://umaleitoravoraz.blogspot.com/
Olá,
ResponderExcluirNunca li nada dessa escritora, na realidade acho que nunca li uma crônica 😁, mas, pretendo ler ele em breve. Adorei os temas abordados no livro e amei a sua resenha. :)
Beijos
Lygia Fagundes Telles! Adoro os livros dela e esse vai parar na minha lista infinita de livros heheheh. Amei sua resenha também. Tão bom ler resenhas dos autores do qual somos fãs.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirLi outro livro da Lygia, mas achei a escrita dela um pouco cansativa. Ela escreve muito bem, sem sombra de dúvidas, mas não é pra mim, que sou jovem, é uma escrita rebuscada para pessoas de mais idade. Parabéns pela resenha, mas eu não li o spoiler, rs.
Olá,
ResponderExcluirEu nunca fui muito ligada a contos justamente porque minhas experiências sempre me deixaram querendo saber mais sobre a história ou tentando encontrar uma justificativa em tudo. No entanto, gostei muito da sua resenha. E os contos com toques sobrenaturais foram o que mais interessaram (fã de fantasia aqui), eu nunca li nada da autora.. mas vou guardar essa dica para futuramente dar uma chance para os contos novamente.
Abraços
colecoes-literarias.blogspot.com.br
Oi
ResponderExcluirNunca li nada da autora, mas adoro leituras que me levam a reflexão.
Eu acho que não li, porque não leio contos. Sempre quero saber mais e tudo acaba tão rápido, tudo tão curto rsrs
beijos e obrigada pela dica
Li esse livro há muito tempo, aliás preciso relê-lo. Mas lembro do conto do por do sol, esse me marcou, talvez pelo seu teor de suspense. Adoro a autora, e concordo com a visão que você teve da obra, realmente ela foca bastante em personagens solitários e amargurados. Parabéns pela leitura...
ResponderExcluir;D
Nelmaliana Oliveira
Oie!
ResponderExcluirNão conhecia e quase não leio livros de conto. Gostei quando disse que são amargurados e solitários, gosto de um sofrimento rsrs.
Bj
www.viciadosemleitura.blog.br
Oii,
ResponderExcluirAcho que ficaria tão perdida na leitura quanto você, mas ainda bem que o próprio livros traz esclarecimento sobre os contos. Não conhecia a autora e fiquei curiosa para conhecer esse livro.
beijos
Oi
ResponderExcluirnão conhecia esse livro, apesar d conhecer a autora a um tempão...confesso que sempre fico meio perdida nas obras dela...acho que o problema é comigo...sua resenha está ótima!!! bjs
Olá... não conhecia a autora e nem o livro, mas como não sou muito chegada a contos, só os de suspense... não tenho pretensão de ler... gostei muito da forma como escreveu a sua resenha tentando destacar os contos que mais chamaram a sua atenção e amei frase final e concordo plenamente com ela... confesso que minha curiosidade bateu no conto do menino... tadinho.. ele ficou triste em ver sua mãe trocando carícias com outro homem... e que mãe é essa gente... rs... Xero!
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