Aqui
no Brasil as novelas fazem muito sucesso, o mercado televisivo brasileiro gira
em torno delas e mesmo as séries que são produzidas aqui tem cara de novela por
isso também atraem o publico. É claro que as séries são melhores produzidas e
roteirizadas, mas mesmo assim vemos os resquícios novelísticos.
Eu
não assisto muito novelas, sou bem dessa nova geração “internética” e
“seriática” não consigo acompanhar algo que tenha um horário certinho para
passar na televisão, sou aquele tipo de jovem que tem sua grade de séries e
pega o notebook para assisti-las na Netflix a hora e o dia que quiser, as
maratonando quando quiser.
Porém algo na série Justiça me atraiu, não me
perguntem o que, seria instinto de que viria coisa boa por ai? Pode ser!
Confesso que mesmo ela sendo curtinha e em um horário bom as vezes me pegava se
perguntando: “poxa mas eu poderia estar assistindo a série tal...” “ou o filme
tal...” mas mesmo assim assisti cada episódio e fiquei impressionada com a
qualidade de cada elemento neles.
Escrita
por Manuela Dias e dirigida por José Luiz Villamarim, Justiça narra diferentes
tramas que se cruzam, cada dia da semana é uma história especifica e eles
conseguiram intercruzar muito bem os personagens nas tramas.
Vicente
A
primeira história foi a do Vicente (Jesuíta Barbosa) que é preso por matar sua
namorada Isabela (Marina Ruy Barbosa) em meio a uma crise de ciúmes. A mãe da
menina, a Elisa (Debora Block) promete mata-lo quando ele sair da cadeia, mas
as coisas mudam. Logo no inicio dessa historia vemos um relacionamento composto
por duas pessoas totalmente imaturas. Isabela uma menina mimada e interesseira
que falta a escola para ficar com o dinheiro da mensalidade caríssima que a mãe
paga, a falência da família do noivo é o ápice para que ela perca o interesse
por ele, quando na verdade deveria ser o gênio possessivo dele e o
relacionamento abusivo que eles tinham. Vicente amadurece muito depois que sai
da prisão, agora tem filha e esposa para cuidar e Elisa ao invés de deixar para
lá, se aproxima e até o ajuda. Quase que os roteiristas afundam essa trama de
vez ao tornar romântico o relacionamento dos dois, não dá para entender uma
mulher que se entrega para o assassino da filha e alega não saber o que estava
fazendo. A impressão é que tentaram fazer uma reviravolta mirabolante para
surpreender o público, mas depois se ligaram na burrada que fizeram e tentaram
justificar de forma ridícula. O final dele a maioria já sabia, culpa daquelas
revistinhas desnecessárias que contam os capítulos do dia (que raiva eu tenho delas)
por isso não foi surpresa. Mas a cena foi sim impactante e bem dirigida. Sabe o
carma? Ele existe e volta quando menos se espera. O Vicente sabe bem. Aqui só
não houve justiça por conta da filha pequena que ele deixou.
Fátima
Rose
e Débora... ou seria Débora e Rose?
O
episódio de quinta feira é protagonizado por Rose e Debora, na verdade a Rose
desceu para a posição de coadjuvante depois que enfatizaram o estupro da
Debora, os roteiristas foram desprovidos de desenvoltura nessa trama pois eles
poderiam continuar abordando o preconceito que Rose sofria ao mesmo tempo em
que contava a trajetória da Débora atrás do seu estuprador, esses são dois
temas importantíssimos que devem ser discutidos no Brasil. Em contrapartida a
cena do estupro foi muito bem feita, deu pra sentir o desespero e a dor da
personagem e houve dois episódios com essa cena, um do ponto de vista dela e o
outro do estuprador. Não vamos entrar em mérito do cara ser doente ou ter
problemas psicológicos, afinal isso é bastante obvio, o triste é ver que em uma
figura dessas não há redenção ou culpa. Mais triste foi o final da Debora, a
fotografia e o movimento de câmera deram leveza e beleza a cena, mas é fácil
observar o quanto ele desgraçou a vida da menina que ao invés de estar com o
marido, com a mãe, com a amiga Rose e o futuro filho, ela estava ali na estrada
sem rumo e sozinha por culpa dele, dessa vez por ter matado ele. Mesmo que o
dialogo final diga o contrario houve vingança e não justiça. O final da Rose
foi ok, mas ela merecia muito mais.
Mauricio
A
última história estava prometendo ser a melhor e mais emocionante, mas logo foi
passada para trás, a impressão era que a trama não era suficientemente
interessante. Ela fala sobre Mauricio (Cauã Reymond) que é preso por praticar a
eutanásia em sua esposa depois que ela fica tetraplégica por que um político a atropela
e não presta socorro. É claro que depois que Mauricio é solto ele vai atrás desse
político interpretado por Antonio Calloni. Aos poucos vamos conhecendo mais as
falcatruas desse cara e conhecemos sua família desequilibrada. O filho é um filhinho
de papai mimado e babaca e a esposa interpretada pela Drica Moraes é depressiva
e posteriormente agredida pelo marido. O dialogo final entre Mauricio e Antenor
é muito bem executado e a justiça é concretizada, pena que não por muito tempo,
afinal como o vilão mesmo disse, aqui é Brasil. A evolução de Cauã como ator é
impressionante e o final do personagem ao lado de Debora na estrada foi um
interessante desfecho.
Justiça
falou sobre temas recorrentes como relacionamento abusivo, estupro,
preconceito, prostituição, abuso de autoridade por parte dos policiais e a corrupção
na política brasileira. Trouxe também excelentes atuações e um bom roteiro
mesmo com muitos furos, muita coisa não é explicada, a morte de personagens
como o marido de Fatima e a mãe de Rose ficam subentendidos. Além do fato deles
terem cometido crimes diferentes e por algum motivo todos pegaram pena de 7
anos, WHAT? Mas nada é perfeito não é mesmo? Porém, essa série é a prova de que
a televisão brasileira está evoluindo.
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