Atlanta
é uma série de TV que era desconhecida até entrar no circuito de premiações e
conquistar dois Globos de Ouro, um na categoria de melhor série de comédia ou
musical e outro na de melhor ator para Donald Glover. Foi aí que todos
começaram a querer assistir (bom de radar televisivo é aquele que começou a
assisti-la antes) inclusive a pessoa que vos escreve, porém, com o
descobrimento de outras séries fui deixando Atlanta de lado e esse foi um erro terrível,
pois essa série é uma das melhores coisas que assisti nesse ano.
A
série conta a história de dois primos que sonham em ficar famosos com Rap e dar
uma vida melhor para suas famílias.
Assim
que Atlanta entrou no catálogo da Netflix, corri para conferir tudo que haviam
falado no começo do ano durante a temporada de premiações. A série apresenta
Earn, um rapaz totalmente ferrado que precisa de dinheiro para criar a filha e
mostrar responsabilidade para a mulher, com quem vive um relacionamento que não
fica claro se estão juntos (e tem um relacionamento aberto) ou estão separados
graças a situação financeira de Earn. Para isso, ele se junta ao primo Paper
Boi (está escrito assim no Wikipédia), e mesmo sem experiência, tentam de tudo
para que a carreira do rapper dê certo, pois aparentemente é a única chance
deles.A série mostra a realidade de pessoas que não tem dinheiro e nem boas oportunidades de emprego tentando sobreviver, e como algumas vezes a única forma de alcançar uma vida decente é cedendo às ideias mais improváveis. Além de tratar dos conflitos decorrentes da pobreza, sejam eles familiares ou não. E da vida dos negros em Atlanta (e provavelmente do mundo todo). Mas a série não trata esses assuntos de forma pesarosa, ela pega esses e outros tópicos já tão discutidos e tempera com um tipo de humor que quase não é visto ultimamente. Um humor cheio de criticidade e que opta por expor o objeto alvo da crítica através de seus personagens. É a primeira vez que vejo um tipo de humor que não se sabe se é permitido rir do que foi assistido, a sensação é de “estou rindo, mas não sei se deveria” ou melhor “estou rindo, mas meu coração diz que é errado” esse meme nunca foi tão adequado.
Mas
não se engane achando que o humor empregado é algo bobo e que beira a paródia,
ele passa longe disso, ele usa o ofensivo para nos mostrar o que de controverso
estamos vivendo em nossa sociedade. Há um episódio que um personagem vai até
aqueles lugares onde se treinam tiro ao alvo e no lugar de escolher o retrato
de uma pessoa para atirar, ele escolhe o de um cachorro, e todos ao seu redor
ficam chocados. Sabe aquele pensamento “mata todo mundo menos o cachorro” é
exatamente isso. (Porém continuo com esse pensamento, parem de matar animais em
filmes, qual o seu problema?)
Em
outro episódio Vanessa (Zazie Beetz) ao sair com uma amiga dos tempos de
escola, percebe a diferença da vida delas. Ela se tornou uma mulher bem-sucedida
e Vanessa uma assalariada com uma filha e um marido que não tem onde cair
morto. Em outro, quando Earn e ela vão fazer uma visita à casa de alguns
brancos e eles os tratam como se devessem algo a eles, é quase como um
sentimento de pena, um Get Out sem as mortes, mas com as atitudes bizarras. Mas
o melhor episódio sem dúvidas é o 7, que é bem alheio a todos os outros, e é
todo em um programa de entrevistas, esse é o mais ácido e mais engraçado de
todos, a gargalhada em certo momento é inevitável.
Donald
Glover escreveu e dirigiu a maioria dos episódios e mesmo que muitos o achem
novo demais, ele já escreveu alguns episódios de 30 Rock e atuou em Community
por muitos anos. E ele é excelente em todas as suas funções. Brian Tyree Henry
também está ótimo como o rapper Paper boi. Ele é aquele cara engraçado, mas
sério ao mesmo tempo, todo mundo conhece pelo menos um Paper boi. No episódio 7
é onde ele brilha. Keith Stanfield se junta ao time dos protagonistas
talentosos dessa série, ele esteve muito bem em Get Out também.
Atlanta
é uma série que finalmente está tendo seu momento e merecidamente, só ela é
corajosa para cutucar algumas feridas nos fazendo olhar por cima dos ombros para
ver se e realmente é certo rir daquelas verdades. Uma série que tem sua versão
negra do Justin Bieber e que o crítica sem parecer que está o criticando mostra
que tem coragem.
Excelente crítica, concordo contigo que é uma série corajosa e muito bem feita. Gostei muito de um documentário que vi ontem que aobrda o mesmo assunto, Diga o nome dela: A vida e Morte de Sandra Bland, um dos bons documentários atuais muito impactante, sobre um caso que em que uma ativista morreu e que contribuiu em muito para o movimento Black Lives Matter. Acho fundamental para repensarmos sobre a nossa sociedade. Super recomendo.
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