sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Review Livro e filme Extraordinário


          Ser gentil com as pessoas talvez não seja uma tarefa tão fácil assim. Ser gentil com seus familiares e amigos é moleza, mas e quando temos que ser bons com aqueles que nos fazem mal? Essa é a parte complicada. E essa é a mensagem quase bíblica que o livro e filme tentam passar, e que de uma forma bem simples e bonita consegue com sucesso.
            Extraordinário é a adaptação de um livro da autora R J Palacio que fez muito sucesso quando foi lançado em 2012. Ele conta a história de August Pullman, que tem o apelido de Auggie e que nasceu com uma síndrome genética que causou deformidade em seu rosto, por isso e pelas diversas cirurgias que precisou fazer, ele sempre estudou com a mãe, mas agora vai enfrentar a escola e o bullying de alguns colegas.
              Esse livro sempre esteve na minha lista de metas literárias, mas fui adiando até esse ano, quando optei por ler ele antes de assistir ao filme. E definitivamente foi uma leitura muito enriquecedora. Não pensem que é um livro recomendado apenas para crianças e adolescentes, ele fala com todo mundo, principalmente com os pais. Acredito que Extraordinário deveria virar leitura obrigatória nas escolas brasileiras, assim como está se tornando nas escolas americanas, ele mostra os diferentes pontos de vista de seus personagens, até mesmo do que pratica bullying, e os faz enxergar a maldade que estão fazendo. Além disso, mostra da onde vem essa intolerância (comentarei um pouco disso mais para frente).
               O filme fez questão de trazer essa linguagem literária, onde ele é dividido em partes e  cada personagem tem sua vez de falar sobre Auggie, e como sua condição afeta  todos ao seu redor. Temos o ponto de vista de sua irmã Via e como ela se sente desamparada pela família perto dos cuidados que eles tem com o irmão, coisa que ela não questiona, pois entende, mas é claro, queria um pouco de atenção também. Temos de Jack Will, amigo de Auggie, que influenciado pelos colegas fala algo que magoa o menino. E até Miranda, a amiga de Via tem vez, pois vemos porque ela se afastou da menina (e o motivo é bem bobo, na verdade, nas melhores amizades quando há separação o motivo é bem bobo, ainda bem que depois caímos na real rs) e etc... Nem todos os personagens tiveram vez no cinema como foi no livro, mas os essenciais tiveram. Só gostaria que tivesse tido (tanto no livro quanto no filme) dos pais de Auggie e da cachorrinha Daisy, por que não? Seria muito interessante.


          Jacob Tremblay debaixo de quilos de maquiagem (muito bem feita por sinal) consegue transmitir emoção apenas no olhar, quando ele chora é inevitável não chorar também, esse menino terá uma carreira brilhante no cinema (pelo menos estou torcendo bastante). As outras crianças são simpáticas, mas não tem o talento do menino, porém é fácil se encantar com Noah Jupe que faz Jack Will e Millie Davis que faz Summer. A irmã de Auggie, interpretada pela Izabela Vidovic está sendo muito elogiada e merecidamente, pois ela transmite com clareza a angustia de estar sempre em segundo plano e como foi perder a única pessoa que notava ela, sua avó brasileira interpretada pela nossa queria Sônia Braga. O professor e o diretor do menino também se saem bem, o ator Mandy Patinkin que faz o diretor principalmente. O professor interpretado pelo Daveed Diggs é aquele professor super gente boa que soa muito inverossímil, talvez existam alguns como ele (eu quero ser como ele), mas sua caricatura e até a forma que ele dá aula indicam que não.
          Julia Roberts e Owen Wilson vivem os pais de Auggie, são os nomes mais conhecidos do elenco e os dois estão maravilhosos. Owen é o cara legal de sempre e seu personagem é muito parecido com o seu anterior de Marley e eu (principalmente por causa de uma determinada cena), mas não incomoda, só nos faz gostar ainda mais dele. Julia se sai muito bem como a mãe coruja, que tenta estudar e cuidar de tudo ao mesmo tempo, é bom ver Julia fazendo um papel tão comum assim, e fazer da melhor forma possível. As caras de surpresa e medo dela eram perfeitas.
          Sobre o bullying, o que mais choca no filme não é a pratica dele pelas crianças, afinal, é como o próprio August fala: se o chewbacca estudasse aqui as pessoas também olhariam para ele, afinal ele é diferente. Então é “normal” (quando não deveria ser) as crianças botarem apelido e hostilizarem o menino daquela forma. E por mais que o bullying mostrado seja mais ameno que em outros livros e filmes (tirando alguns momentos, um deles no acampamento) vemos um lado diferente dessa pratica, o lado dos pais, na pele dos pais de Julian, que não repreendem o menino, pelo contrário, eles o “compreende” afinal, aquele menino diferente é muito para o rico e perfeito Julian assimilar. Eles não abraçam os que são diferentes, eles os querem longe. Uma metáfora perfeita para as crianças negras, as pobres ou com alguma limitação. Vemos que a intolerância vem dos pais, as crianças são aquilo que os pais são, eles colocam em pratica aquilo que eles o ensinam. Enquanto assistia me reusava a entender que existem pais assim, mas infelizmente isso é mais comum do que pensamos, vejamos, por exemplo, o caso recente do menino que gravou um vídeo falando que sofria bullying e foi apoiado por todos os artistas de Hollywood,mas depois veio a tona provas de que ele fazia bullying com crianças negras porque os pais eram racistas. Ele combatia a agressão com agressão, por culpa dos pais.
           Extraordinário é daqueles livros que devem ser lidos mais de uma vez na vida e o filme é tão fiel a ele e à sua mensagem, que devemos fazer o mesmo com ele. Devemos indica-los e passar para frente, espalhar a palavra, pois crianças e adultos podem aprender com eles. Peço perdão pela leve modificação da mensagem transmitida e digo: entre escolher o certo e ser gentil, faça o certo e seja gentil. Pais eduquem seus filhos para aceitar a diferença, se ponham no lugar dos outros pais e até das crianças. Extraordinário diz que todos deveriam ser aplaudidos de pé pelo menos uma vez na vida, se você deseja isso, faça por merecer, seja gentil.

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