Ser
gentil com as pessoas talvez não seja uma tarefa tão fácil assim. Ser gentil
com seus familiares e amigos é moleza, mas e quando temos que ser bons com
aqueles que nos fazem mal? Essa é a parte complicada. E essa é a mensagem quase
bíblica que o livro e filme tentam passar, e que de uma forma bem simples e bonita
consegue com sucesso.
Extraordinário
é a adaptação de um livro da autora R J Palacio que fez muito sucesso quando
foi lançado em 2012. Ele conta a história de August Pullman, que tem o apelido
de Auggie e que nasceu com uma síndrome genética que causou deformidade em seu
rosto, por isso e pelas diversas cirurgias que precisou fazer, ele sempre
estudou com a mãe, mas agora vai enfrentar a escola e o bullying de alguns
colegas.
Esse
livro sempre esteve na minha lista de metas literárias, mas fui adiando até esse
ano, quando optei por ler ele antes de assistir ao filme. E definitivamente foi
uma leitura muito enriquecedora. Não pensem que é um livro recomendado apenas
para crianças e adolescentes, ele fala com todo mundo, principalmente com os
pais. Acredito que Extraordinário deveria virar leitura obrigatória nas escolas
brasileiras, assim como está se tornando nas escolas americanas, ele mostra os
diferentes pontos de vista de seus personagens, até mesmo do que pratica bullying,
e os faz enxergar a maldade que estão fazendo. Além disso, mostra da onde vem
essa intolerância (comentarei um pouco disso mais para frente).O filme fez questão de trazer essa linguagem literária, onde ele é dividido em partes e cada personagem tem sua vez de falar sobre Auggie, e como sua condição afeta todos ao seu redor. Temos o ponto de vista de sua irmã Via e como ela se sente desamparada pela família perto dos cuidados que eles tem com o irmão, coisa que ela não questiona, pois entende, mas é claro, queria um pouco de atenção também. Temos de Jack Will, amigo de Auggie, que influenciado pelos colegas fala algo que magoa o menino. E até Miranda, a amiga de Via tem vez, pois vemos porque ela se afastou da menina (e o motivo é bem bobo, na verdade, nas melhores amizades quando há separação o motivo é bem bobo, ainda bem que depois caímos na real rs) e etc... Nem todos os personagens tiveram vez no cinema como foi no livro, mas os essenciais tiveram. Só gostaria que tivesse tido (tanto no livro quanto no filme) dos pais de Auggie e da cachorrinha Daisy, por que não? Seria muito interessante.
Jacob Tremblay debaixo de quilos de maquiagem (muito bem feita por sinal) consegue
transmitir emoção apenas no olhar, quando ele chora é inevitável não chorar
também, esse menino terá uma carreira brilhante no cinema (pelo menos estou
torcendo bastante). As outras crianças são simpáticas, mas não tem o talento do
menino, porém é fácil se encantar com Noah Jupe que faz Jack Will e Millie
Davis que faz Summer. A irmã de Auggie, interpretada pela Izabela Vidovic está
sendo muito elogiada e merecidamente, pois ela transmite com clareza a angustia
de estar sempre em segundo plano e como foi perder a única pessoa que notava
ela, sua avó brasileira interpretada pela nossa queria Sônia Braga. O professor
e o diretor do menino também se saem bem, o ator Mandy Patinkin que faz o
diretor principalmente. O professor interpretado pelo Daveed Diggs é aquele
professor super gente boa que soa muito inverossímil, talvez existam alguns
como ele (eu quero ser como ele), mas sua caricatura e até a forma que ele dá
aula indicam que não.
Julia
Roberts e Owen Wilson vivem os pais de Auggie, são os nomes mais conhecidos do
elenco e os dois estão maravilhosos. Owen é o cara legal de sempre e seu personagem
é muito parecido com o seu anterior de Marley e eu (principalmente por causa de
uma determinada cena), mas não incomoda, só nos faz gostar ainda mais dele.
Julia se sai muito bem como a mãe coruja, que tenta estudar e cuidar de tudo ao
mesmo tempo, é bom ver Julia fazendo um papel tão comum assim, e fazer da
melhor forma possível. As caras de surpresa e medo dela eram perfeitas.
Sobre
o bullying, o que mais choca no filme não é a pratica dele pelas crianças,
afinal, é como o próprio August fala: se o chewbacca estudasse aqui as pessoas
também olhariam para ele, afinal ele é diferente. Então é “normal” (quando não
deveria ser) as crianças botarem apelido e hostilizarem o menino daquela forma.
E por mais que o bullying mostrado seja mais ameno que em outros livros e
filmes (tirando alguns momentos, um deles no acampamento) vemos um lado
diferente dessa pratica, o lado dos pais, na pele dos pais de Julian, que não
repreendem o menino, pelo contrário, eles o “compreende” afinal, aquele menino
diferente é muito para o rico e perfeito Julian assimilar. Eles não abraçam os
que são diferentes, eles os querem longe. Uma metáfora perfeita para as
crianças negras, as pobres ou com alguma limitação. Vemos que a intolerância vem
dos pais, as crianças são aquilo que os pais são, eles colocam em pratica
aquilo que eles o ensinam. Enquanto assistia me reusava a entender que existem
pais assim, mas infelizmente isso é mais comum do que pensamos, vejamos, por
exemplo, o caso recente do menino que gravou um vídeo falando que sofria
bullying e foi apoiado por todos os artistas de Hollywood,mas depois veio a
tona provas de que ele fazia bullying com crianças negras porque os pais eram
racistas. Ele combatia a agressão com agressão, por culpa dos pais.
Extraordinário
é daqueles livros que devem ser lidos mais de uma vez na vida e o filme é tão
fiel a ele e à sua mensagem, que devemos fazer o mesmo com ele. Devemos
indica-los e passar para frente, espalhar a palavra, pois crianças e adultos
podem aprender com eles. Peço perdão pela leve modificação da mensagem
transmitida e digo: entre escolher o certo e ser gentil, faça o certo e seja
gentil. Pais eduquem seus filhos para aceitar a diferença, se ponham no lugar
dos outros pais e até das crianças. Extraordinário diz que todos deveriam ser
aplaudidos de pé pelo menos uma vez na vida, se você deseja isso, faça por
merecer, seja gentil.
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