Com
direito a abertura do Queen, o Oscar 2019 começou prometendo uma noite bem
peculiar para os amantes do cinema. Para celebrar ainda mais Bohemian Rhapsody,
eles premiaram o filme com 4 Oscars. Melhor montagem (WHAT?), melhor edição de
som, melhor mixagem de som e melhor ator para Rami Malek (WHAT? part 2), se
estabelecendo assim como o que levou mais prêmios. É difícil acreditar que o
filme que até o ano passado estava sendo chacota por conta das imagens e vídeos
de bastidores que saiam foi o grande vencedor da noite.
Não me levem a mal (ou levem),
Bohemian é um filme legal, porém, ele se sustenta na força do Queen, não há
mais nenhum atributo técnico ou performático que o eleve, as musicas inesquecíveis
do Queen são o que conduz o filme, se não fossem elas, esse seria só mais um
filme sobre formação de banda, onde o vocalista tem lá seus problemas, mas que
encontra o pedestal no final. Rami é SIM um ótimo ator, seu desempenho em Mr Robot comprova isso e ele não estava totalmente ruim como Freddie, mas algo em sua caracterização banalizava todo seu talento (o bem da verdade é que o roteiro também contribuiu para isso), tanto que eu só consegui enxergar um pouquinho do Freddie nele (uns 20% vai) da metade para o ultimo ato do filme, que é quando ele assume o visual tiozão, característico de Mercury, com o cabelo curto para trás, o bigode e os óculos escuros. Todos os outros candidatos a melhor ator estavam melhores, mesmo Bale, que em Vice fez mais um papel onde mudou drasticamente seu visual, provavelmente com o Oscar na cabeça.
Minha torcida nessa categoria era
para Bradley Cooper, que se mostrou um cineasta completo ao escrever, dirigir e
atuar em Nasce uma estrela. Sua atuação foi ainda melhor do que a de Gaga, e
por vezes eu tinha que me lembrar que aquele era o bonitão de Se beber não
case.
Gaga
perdeu para Olivia Colman (A Favorita) na categoria de melhor atriz, quando na
verdade Glenn Close, era a maior merecedora nessa categoria, não pelo conjunto
da obra, esse não seria um prêmio de consolação do tipo: “Glenn já concorreu
tantas vezes e contribuiu tanto para a indústria do cinema, vamos dar esse
prêmio para ela”. Mais ou menos o que aconteceu com Dicaprio, que ganhou por O
Regresso, quando deveria ter ganhado por Gilbert Grape.
Glenn merecia por esse papel. O papel
da esposa traída em todos os sentidos pelo marido. Que viveu para ele, o tornou
um homem bem sucedido, uma pessoa melhor e tinha que conviver com os “deslizes”
dele e seu egoísmo, a creditando como sua “linda esposa” ao invés de receber o
verdadeiro reconhecimento que gostaria. Os olhares de insatisfação e
constrangimento da “esposa” eram perceptíveis até por baixo de camadas de
sorriso, Glenn está excelente aqui e está excelente sempre.
Melissa McCarthy fazendo drama também
foi uma agradável surpresa, ela é tão poderosa em seu papel como Lee Israel em
Poderia me perdoar? Que nos faz esquecer que é a mesma atriz que protagonizou a
hilária cena da pia em Missão madrinha de casamento.
As categorias de ator e atriz
coadjuvante estavam difíceis, talvez até mais do que as de atores principais,
todos os candidatos (tanto as mulheres, quanto os homens) mereciam uma
estatueta. Ok, talvez não o Sam Rockwell, com o seu caricato Bush em Vice, ele
só estava ali porque entrou no radar de Hollywood por causa do seu Oscar no ano
passado. Acertaram em cheio em dar os prêmios nessas categorias para Regina King
e Mahershala Ali.
Além do Oscar de melhor ator
coadjuvante para Mahershala, Green Book, também ganhou mais dois prêmios importantes,
o de melhor filme e melhor roteiro original. Se tornando o 2° vencedor da
noite, quando na verdade o único prêmio justo mesmo para ele foi de ator coadjuvante.
O
roteiro é praticamente um guia de “racismo para iniciantes” mesmo que as
situações onde acontece o racismo no filme sejam reais, a impressão é que
aquele homem branco viveu a vida em uma redoma, e nunca tinha presenciado o
preconceito. Tanto que ele mesmo é racista e por incrível que pareça compreende
muito bem a situação e defende o personagem negro a todo custo. Configurando
duas situações aqui, o do homem branco herói que precisa salvar o negro, e a improvável
situação onde o homem é compreensível à dor do negro, quando na vida real ele
acreditaria em racismo reverso e se não visse o que viu, defenderia que “racismo
não existe, que os negros que são racistas” conheço uns que mesmo presenciando
continuariam afirmando isso.
De tantos filmes que abordam o racismo
indicados como: Infiltrado na Klan, Pantera Negra e a Se a rua Beale falasse, é
um ultrage que justamente aquele que fala de racismo de uma forma tão simplista
ganhe como melhor filme.
O diretor premiado na noite foi Alfonso
Cuáron. Que dirigiu, escreveu, editou e cinematografou Roma. O filme que
realmente deveria ter ganho o Oscar de melhor filme, tamanha sua importância para
nós latinos. Ganhou também como melhor filme estrangeiro (Não tinha como ser
outro).
Roma enaltece a luta da classe trabalhadora,
onde Yalita Aparicio é Cleo, uma empregada doméstica considerada “da família” que
se vê desamparada em muitos momentos, tanto na profissão, quanto na vida pessoal.
Mesmo que a cena da praia seja comovente (chorei horrores) vemos as sutilezas
da barreira “empregado x empregador” ao decorrer do filme. Muitos brasileiros o
compararam com Que horas ela volta e eles têm muitas semelhanças, a diferença é
que essas “sutilezas” são muito mais explicitas no filme de Anna Muylaert,
protagonizado por Regina Casé. Roma tem uma cinematografia belíssima e poética
(o filme é todo em preto e branco) e a edição também é primorosa. Deveria ter
sido o campeão da noite.
O Oscar 2019 foi bem estranho, não
teve apresentador (Kevin Hart desistiu após vazarem piadas homofóbicas dele) e
deu prêmios questionáveis, mas acertou em algumas categorias como melhor
animação (para o maravilhoso Homem Aranha no aranhaverso) melhor curta de
animação (Bao é tão lindo e a mensagem é tão importante), melhor canção original
para shallow (rendendo o melhor momento da noite com Lady gaga e Bradley
cantando ela) e os prêmios já citados acima. Merecíamos uma apresentação de All
the stars e provavelmente nem lembraremos mais de Green Book no ano que vem,
mas esse é o Oscar.
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