quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Review e teorias de Mother!


          Confuso, porém menos confuso do que Donnie Darko, por exemplo, esse é Mother, um filme daqueles que o grande público (a audiência cinéfila da praça de alimentação do shopping) não entende nada e os cinéfilos anseiam para criar teorias. E mesmo com muitas metáforas, elas não são terrivelmente difíceis de entender, é só pensar um pouquinho e ter pelo menos um pouco de conhecimento sobre a Bíblia que rapidinho se pega a minúcia. Essa primeira parte do review será a avaliação técnica do filme sem spoiler e mais abaixo tem muitos spoilers e a minha interpretação do que assisti.
          Mãe! (gostei da fidelidade do titulo) é um filme escrito e dirigido por Darren Aronofsky que conta a história desse casal que vivem em uma região pacifica e isolada, mas que tem sua rotina completamente alterada depois que recebem visitas inesperadas.
           O marketing do filme, que não contava quase nada sobre ele, foi uma jogada de gênio, pois através do trailer e da sinopse não dava para saber o que esperar, isso instigou cada vez mais o espectador e eles também tiveram um papel importante depois que o filme foi lançado, pois não divulgaram nada do filme, talvez seja pela seletividade das pessoas que estão assistindo. Em sua maioria cinéfilos.
            A maior discussão do filme é sobre religião e Darren fez algo parecido com seu filme Noé de 2014 onde ele também dirigiu e escreveu e onde ele elencou pensamentos próprios acerca das escrituras, divergindo delas em vários aspectos. Nesse, independente de crença religiosa, temos um roteiro demasiadamente inteligente, vemos com ele que Aronofsky é uma mente brilhante, a forma como ele adéqua conflitos normais que existem dentro de um casamento a assuntos mais profundos relacionados a Deus e a humanidade é espetacular. As insatisfações da esposa e a tirania do marido ao não consultar ela a respeito de nada, nem sequer sobre as pessoas que coloca dentro de sua casa são muito palpáveis. Ele não a escuta e parece não ligar para a presença dela.
           A submissão dessa esposa chega a ser irritante algumas vezes, a vontade era a mandar berrar para expulsar todo mundo, mas ela diz em vários momentos que o ama acima de tudo, que a casa é dele, por isso ela não pode opinar em nada etc... Ela faz serviço braçal para reformar a casa e transforma-la em um paraíso, enquanto ele tenta arrumar inspiração para seu novo livro. Ela é personificação de muitas esposas e mães de família por ai, que se doam até o ultimo fio de cabelo, (muitas trabalhando fora) enquanto o homem soberano acha que o fato dele trabalhar e trazer sustento para casa é suficiente e sua única função no lar.


          A atuação de Jennifer Lawrence nesse filme foi um renovo à sua imagem, mesmo sendo uma ótima atriz vencedora do Oscar, seus exageros em cena estavam a tornando caricata, e aqui é como se a própria tivesse lido/assistido algo a respeito e procurou se conter, mesmo em uma cena em que ela precisava sim ter pirado e exagerado o quanto quisesse. A câmera a acompanha bem de perto em todo o tempo e mostra seu ponto de vista acerca dos outros personagens, notamos o quanto ela é boa, pois a câmera extrai o melhor do seu olhar e de suas expressões faciais, nos mostrando seus sentimentos sem precisar verbalizar. Javier Bardem também está excelente, ele traduz perfeitamente aquele personagem que está irado, mas precisa se conter.
          Os coadjuvantes são Ed Harris e Michelle Pfiffer que estão ótimos também representam bem o começo de toda aquela bagunça que se tornará a vida deles. Ele faz muito bem o cara paciente e ela a esposa bisbilhoteira e curiosa. Outros rostos conhecidos no elenco são Domhnall Gleeson e seu irmão na vida real Brian Gleeson e a comediante Kristen wiig, que também estão ótimos mesmo com pouco tempo em tela.
          A direção de Darren Aronosky é primorosa, assim como o roteiro, pois ele não cria metáforas apenas com as palavras, mas visualmente também, em como ele foca em cada objeto e cada personagem. Os efeitos visuais e sonoros utilizado nas cenas das contrações foram totalmente condizentes a tensão da personagem no trabalho de parto. O som também tem papel fundamental no longa, há alguns barulhos bem irritantes, mas o que predomina é o silencio.
          Mother não é um filme feito para agradar os fãs da Jennifer Lawrence e de Jogos vorazes, pelo contrario, em certo momento ele caçoa da fama e da idolatria dos fãs, esse é um filme para conhecer outra faceta da atriz e de todo elenco, até mesmo do diretor, é algo para chocar (a cena das pessoas vendo o bebe e de certo espancamento que acontece são extremamente fortes) e fazer pensar, pensar sobre Deus, sobre a fé, idolatria, fama e a natureza, é um filme que te cutuca de uma forma  que já deveria ter acontecido a muito tempo no cinema.

Teorias.... [spoiler alert] 


Já fui ao cinema com o “spoiler” de que o personagem do Javier Bardem representava Deus e o da Jennifer Lawrence a Mãe natureza e isso fez toda a diferença para o entendimento das demais alegorias bíblicas apresentadas no filme. O personagem de Ed é adão (em uma cena especifica ele está vomitando e aparece uma cicatriz que Deus logo faz questão de esconder, simbolizando a costela de Adão que foi retirada) e da Michelle Pffifer é Eva, a casa representa o paraíso descrito no Genesis (que posteriormente se amplia para representar o planeta terra, assim como na historia do mundo) Ed é compreensivo e tenta fazer as coisas certas, mas sua esposa é enxerida e sempre está xeretando no que não deve, o quarto de Javier é como a árvore da vida, do bem e do mal, e a pedra que ele tem em um pedestal (em que certo momento ele conta que achou em um incêndio) representa o fruto proibido da bíblia. Assim que a personagem de Michelle o quebra, o pecado entra no paraíso (representado pela transa com o marido)
Posteriormente os filhos do casal adentram à casa e lá em meio a uma briga, um mata o outro, assim como na passagem de Caim e Abel. O personagem de Domhnall é Caim, o invejoso e ciumento, a primeira personificação do pecado que acontece dentro de casa, na própria família, onde a pessoa mata a outra do seu próprio sangue, pecado que se alastrou e hoje é comum nos noticiários.
A cena do velório e toda confusão gerada a partir dela representa a humanidade dos tempos de Noé, onde havia todo tipo de barbaridade e confusão, a única diferença é que Deus se irou na Bíblia, quanto em Mother apenas Jennifer Lawrence se ira e meio que faz o papel de Deus, afirmando em certo momento que aquelas pessoas não a ouvem (principalmente na cena da pia se quebrando e alagando tudo) depois há um momento de paz, onde o casal meio que se reconcilia em uma cena abusiva e perturbadora de sexo. Mas o sangue do irmão que morreu continua na madeira da casa, assim como ficou na terra, na passagem de Caim e Abel.
 Do antigo testamento abordado no filme, ele pula para o novo, quando não há mais a aparição do casal e quando há a divulgação do livro que o personagem finalmente terminou e todas as pessoas ficam obcecadas por ele, isso talvez seja uma critica à bíblia onde o diretor diz que é apenas um livro e as pessoas idolatram ela e seu autor desenfreadamente, como acontece com a primeira parte do filme, onde o casal também conhece esse autor e o homem o idolatra. O filme faz questão de ressaltar que Javier é Deus quando diz que ele é o escritor, autor e etc... na bíblia Deus é citado como autor da criação, pintor da vida e etc... Por isso ele é representado por um artista.
Toda a confusão que acontece na casa, onde muitas pessoas veem para conhecer o autor, é uma critica clara ao fanatismo religioso, na cena as pessoas o idolatram desenfreadamente, sem medir as consequências, a mulher da agência literária interpretada pela kristen quando surge é uma mulher pacifica e entusiasmada, mas logo é vista assassinando pessoas e querendo assassinar a mother, o que representa aqueles religiosos que matam em nome de uma força maior, anteriormente pelo telefone ela se mostra totalmente empolgada com o livro, o venerando, o que aumenta essa ideia. O soldado que protege a mãe talvez represente as pessoas mais conscientes das coisas ao seu redor, como aqueles religiosos que mesmo tendo fé, tem pensamento próprio e sabe no que acredita sem se cegar por isso (eu mesma)
A cena do parto ela se torna Maria, que acabou de dar a luz a Jesus e não quer que o marido o exponha, ela dorme por cinco minutos e o marido já o oferece para as pessoas que permanecem na casa, assim como na crucificação, e assim como nela, Jesus morre pelas mãos da humanidade representada por essas pessoas e a humanidade se alimenta dele, fazendo alusão à santa ceia onde comemos do corpo (pão) de Jesus e bebemos do sangue (vinho) dele. Quando finalmente a mãe dá um basta naquela loucura toda, ela retorna ao papel de mãe natureza, o chão se abre (como quando Jesus morreu na cruz) e depois ela é espancada em uma cena fortíssima, isso já representa todos os maus tratos que a humanidade dá a natureza com a poluição, o desmatamento, queimadas e etc...
A cena final é o jeito de dizer que sempre que a humanidade e a natureza falhar ele fará tudo de novo, como foi com o dilúvio, e o fogo representa a passagem da bíblia onde Deus fala que o mundo não acabará mais em água, mas sim em fogo. O diretor e roteirista, ao meu entendimento, quis fazer uma critica e passar a mensagem de que Deus ama mais a humanidade do que a natureza que ele criou, pois ele mesmo com as suplicas da mulher continua acolhendo as pessoas em sua casa, dando total liberdade para elas, mesmo as vendo destruírem tudo, e ele insiste no perdão delas, mesmo que elas façam coisas imperdoáveis, também captei uma critica aos desastres naturais que Deus não intervém como muitas pessoas falam: se Deus existe porque tantos desastres, e coisas ruins acontecem no mundo? Argumento de muitas pessoas ateias. O filme é um soco no estomago mas um soco bem dado.

Créditos: minha amiga Laíza Oliveira (duas cabecinhas pensam melhor que uma rs) 

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