Está
sendo uma época muito boa para nós adultos irem ao cinema ver desenhos. Já que
agora a Disney unida a pixar está investindo muito mais em contar uma boa
historia, com bons ensinamentos e abordagem de temas sérios e preocupantes. É
claro que as crianças não conseguem captar tudo isso, elas estão lá apenas para
rir e achar tudo colorido e fofo (e eles estão caprichando nisso também)
enquanto nós adultos rimos, choramos, aprendemos, apontamos problemas da
sociedade e no fim aplaudimos toda essa montanha russa de emoções.
Zootopia conta a história de Judy
Hoops uma coelhinha fofa (ops, não posso chama-la de fofa pois só coelhos podem
chamar um ao outro de fofos) que se muda para a cidade de Zootopia para ser
policial. Lá ela enfrenta vários desafios e conhece Nick Wilde uma raposa
trambiqueira.
O filme é menos emocionante do que
Divertida mente por exemplo, mas a mensagem é tão importante quanto. Enquanto
no filme anterior o assunto principal é a depressão, nesse o assunto em pauta é
o preconceito, algo tão debatido e polemizado atualmente. A própria parte em
que Judy chega na cidade e fala sobre quem pode ou não pode chama-la de fofa já
é o começo da discursão. Recentemente aprendi que em um debate em grupo, tanto
na escola, na faculdade, em grupos de Whatsapp, facebook e afins se o tema a
ser discutido é algo que não é da sua alçada, ou seja, é algo que não condiz com
a sua realidade você não pode tomar a frente para discutir. Por exemplo, eu sou
uma mulher branca que apoio o feminismo, se mulheres negras feministas tiverem
discutindo sobre coisas que elas sofreram eu tenho que fazer a “Gloria” e não
ser capaz de opinar, até porque mesmo eu sendo mulher eu não passei pelos
mesmos tipos de preconceito que elas passaram (aprendi isso inclusive com um
vídeo no youtube) e isso que o diálogo do filme significou para mim. Mesmo que
haja um “Pré-conceito” não cabe a mim reforça-lo. Posso apoiar a causa e defende-la,
mas não opinar em algo que não vivenciei.
Cada animal do filme é retratado da
forma que enxergamos eles. Judy é policial mas deveria estar trabalhando no
ramo de cenoura que é o que a família quer, eles até torcem pelo fracasso dela
para que ela não venha passar por perigos na nova profissão, quantos pais não
são superprotetores assim? A raposa é traiçoeira, o Leão é autoritário, o bicho
preguiça é.... preguiçoso! E assim por diante. Inclusive as preguiças do filme
trazem a sequência mais engraçada do filme inteiro. No filme não há mais
animais “selvagens” pois todos vivem em sociedade. Porem algo está fazendo os
animais voltarem a selvageria e aí entra a aventura e o clima investigativo da
animação, a coelha e a raposa vão atrás dos responsáveis pelo sumiço desses
animais. A nível de curiosidade Nick foi inspirado no Robin Hood da animação da
Disney de 1973, onde o personagem era outra raposa esperta. Assim que botei meus
olhos nele o desenho que tanto assistia na infância surgiu em minha mente.
O
roteiro é muito bem desenvolvido nessa parte investigativa da trama o que faz
do filme muito mais do que um desenho com uma historinha superficial e
simplória. A aventura da nova dupla pode afastar os pequeninos que procuram só
risadas descomprometidas. Uma criança ao meu lado estava implorando para que a
mãe deixasse ela dormir. O visual também é primoroso e rico em detalhes bem
trabalhados. Principalmente nas cidades por onde Judy passa até chegar a
zootopia. A trilha sonora também é boa e a música da Shakira fica na cabeça. A
cantora por acaso faz a personagem Gazelle.
Portanto não espere altas risadas
durante essa animação, as vezes elas até acontecem (principalmente por parte do
tigre recepcionista e das preguiças) mas isso não é a prioridade, ela fica a
cargo da investigação e o mistério da animação, o que nos deixa muito mais
entusiasmados do que gargalhadas sem sentido (o menino ao meu lado no cinema
deve discordar) espere muitas referências divertidas, como o desenho de uma
cenoura no celular de Judy ao invés da maça da Apple, um dos animais imita
perfeitamente Don Corleone de O Poderoso Chefão dentre outras coisas e o mais
enriquecedor é a lição de moral que complementa mais essa obra assertiva.
Muitas vezes nos comportamos como as pessoas nos veem, assim achamos que
devemos viver conforme fomos predestinados, sentimos que não devemos arriscar e
melhorar, apenas dançamos conforme a música, contudo a letra dessa música pode
estar equivocada. Somos muito mais do que pensamos e do que as pessoas esperam
podemos fazer o que quisermos e a aqui a Disney reforça mais uma vez o ideal de
que “sonhos podem virar realidade” talvez as pessoas te vejam como uma raposa
traiçoeira e nada mais do que isso, mas por dentro você é um tigre esperando
para rugir alto ou uma lebre assustada querendo apenas se encaixar. Você é o
que quer ser e não o que a sociedade diz que é.