Assim
como em Room, Spotlight traz um assunto bastante delicado que poucas pessoas
sabem como lidar, situações que podem traumatizar vidas, e ambos os filmes
tratam disso com bastante cuidado, só que Spotlight dá muito mais alfinetadas.
O
filme é sobre um grupo de jornalistas que investigam casos de pedofilia
causados por padres em Boston. Ele é baseado em fatos reais. (Esse ano a
maioria dos filmes indicados são baseados em fatos reais)
Durante
todo o filme acompanhamos as descobertas dos jornalistas e como eles passaram
de casos de uma cidade para o mundo todo, já que isso não é um problema apenas
de Boston pois sabemos que é uma triste realidade que afeta toda a escala
global. Quantos casos de pedofilia já foram noticiados aqui no Brasil? E no
mundo inteiro? Como é dito no filme isso é praticamente um “fenômeno” pois acontece
demasiadamente e sempre as vítimas possuem as mesmas características. Elas são
crianças pobres (meninos em sua maioria) que tem um lar desestruturado e que
não possuem uma figura paterna em casa. O filme também mostra o temor da família
ao denunciar os casos de abuso, mas não por medo de ameaças de morte ou algo do
tipo, mas eles possuem um temor religioso, como se fosse pecado denunciar essas
práticas feitas por homens ditos como “santos” Nos depoimentos das vítimas do
filme eles contam que os padres eram como um “Deus” para eles, e como você vai
dizer não para Deus? Isso seria totalmente doentio se não fosse plausível pois
sabemos que isso deve ser exatamente o que se passa na cabeça dos “sobreviventes”
(como eles são retratados no filme) e da família deles. Acredito que isso
também se passe na vida real. O filme expõe o ponto de vista deles. A vergonha
e os traumas ocorridos depois das práticas. Alguns viram alcoólicos e uns até
se matam pelo constrangimento.
Um
depoimento que me deixou particularmente chocada no filme foi o de um rapaz
homossexual que já sabia que era desde criança, desde a época dos abusos, mas
não falava para ninguém e ele praticou sexo oral e outras coisas com o padre
pois ele era o único que aceitava a homossexualidade dele e se um padre que
deveria abominar essa “pratica” te compreende e te aceita como você vai se
negar a ele? Isso nas palavras do personagem. Achei bastante perturbador.
O
número tão grande das descobertas também é assustador. No final do filme eles
mostram uma lista dos casos descobertos pelo mundo e é uma estatística enorme. Realmente
o “fenômeno” já citado, pois esse tipo de comportamento regular dentro de um
grupo que deveria significar santidade é quase uma doença. É difícil para
qualquer um compreender o porquê desses números, o porquê de eles fazerem isso,
o porquê deles se aproveitarem da inocência e da carência das crianças.
Toda
essa investigação é feita por personagens determinados e um elenco com bastante
química. Tanto que ganharam o Sag como melhor elenco. Michael Keaton está mais
forte do que nunca, depois de seu ressurgimento ano passado com Birdman e agora
interpretando muito bem um homem focado e compenetrado em seu grupo e suas
funções ele mostra que veio para ficar e esperamos sinceramente que ele continue
nesse caminho. Rachel McAdams é a única mulher no grupo e também está ótima no
papel, mesmo que não tanto ao ponto de ganhar na categoria de melhor atriz
coadjuvante na qual está indicada, sua personagem está muito parecida com outra
dela, mas da série True Detective. Mesmo que numa versão menos durona e mais
compreensiva. Mark Ruffalo fez o contrário de Rachel, enquanto ela estava bem
sem se esforçar, ele parecia que estava se esforçando há todo tempo. Mas com
esse esforço todo não conseguia acertar o tom da atuação, da dicção e dos
trejeitos, estava certa de que criticaria extremamente ele até uma certa cena
no final onde ele discute com o personagem de Keaton, foi como se o Hulk
tivesse se libertado daquele Bruce Banner irritante do restante do filme.
O
outro membro do quarteto também é excelente assim como Stanley Tucci (um ótimo
ator só que sempre coadjuvante) Liev Schreiber e John Slattery. Realmente um
elenco de peso. Até os atores que interpretaram as vítimas eram excelentes. Foram
escolhidos a dedos de ouro.
O
diretor Thomas McCarthy que antes não fez nada de notório faz um excelente
trabalho com esse filme que é lento em toda sua narrativa, mas que nem por um
segundo é entediante. Você fica imerso naquela investigação mesmo já sabendo a
verdade. Spotlight desafia a igreja católica e mostra como ela ainda tem grande
influência sobre o estado assim como na era medieval.
O melhor filme do ano segundo o Oscar. Está na minha lista mas ainda não pude assistir (muito filme bom e pouco tempo).
ResponderExcluirSugestões de Livros
www.sugestoesdelivros.com