O
musical é um gênero datado, assim como o Faroeste, tanto que surgem um ou dois
musicais em um intervalo de cinco anos, enquanto na época de ouro de Hollywood
estreavam vários musicais em um mês. Ele tem um publico especifico, não são
todos que gostam de musicais e é injustamente direcionado para o publico
feminino. Na sala em que eu assisti La La land tinham poucos homens, uns
estavam com suas namoradas/esposas e um ou dois estavam sozinhos, o que
modifica esse “pré-conceito” de que homem não assiste musical, por conta disso
e de outros argumentos como “odeio filme com cantoria do nada” que esse gênero
foi ficando ultrapassado. E quando surgiu a noticia de que sairia um musical
totalmente original protagonizado pelos queridos Ryan Gosling e Emma Stone e
que era uma espécie de homenagem aos musicais antigos e a cidade de Los Angeles
despertou uma ansiedade tremenda. E é tão gratificante quando você espera muito
por algo e não se decepciona.
Em
La La land o pianista Sebastian e a atriz Mia são um casal que se apaixona
(mesmo que não a primeira vista) e estão em busca dos seus sonhos que parecem
nunca se concretizarem.
O
filme todo gira em torno do casal de protagonistas e a química entre Ryan e Emma
se fortaleceu ainda mais já que esse não é o primeiro filme em que atuam
juntos, eles já trabalharam juntos em mais dois filmes, um deles Amor a toda
prova (que eu particularmente adoro) onde o personagem de Ryan faz de tudo para
conquistar a personagem de Emma e aqui o oposto acontece, a ideia é que
Sebastian é muito para Mia, os dois vivem se esbarrando pela cidade, mas ele no
inicio a despreza, Mia finge não se importar com ele ao mesmo tempo em que
precisa lidar com o fato de fazer milhares de testes de elenco e não passar em
nenhum por ser igual a todas as outras garotas que fazem teste com ela e às
vezes até menos bonita que elas, essa é a crueldade hollywoodiana como
conhecemos bem, onde a beleza é super valorizada e são tantas pessoas
perseguindo os mesmos sonhos que é difícil se destacar.
A
dinâmica do casal é muito parecida com a de Gene Kelly e Debbie Reynolds em
Cantando na chuva (meu filme preferido) Sebastian é como Don Lockwood, teimoso
e implicante. E mia é como Kathy, sonhadora, mas pé no chão ao mesmo tempo,
Kathy era atriz de teatro e odiava cinema, arte que começou a gostar depois,
assim como aconteceu com Mia e o Jazz e Mia também tenta carreira no teatro.
Seb e Mia no principio são exatamente como Don e Kathy, se engalfinham mas
acabam se apaixonando e as duas acabam virando as incentivadoras e grandes
amigas de seus respectivos companheiros. Apenas no ato final que as comparações
cessam, pois enquanto em cantando na chuva o relacionamento e a vida deles são
perfeitos até o fim, em La La land a busca pelo sucesso trás muitos problemas
ao casal, trazendo realidade ao musical e o adequando a dura realidade daqueles
que buscam os holofotes.
Emma
e Ryan estão excelentes e extremamente carismáticos nesse filme, Emma tem sua
melhor interpretação até aqui, passando todas suas emoções em suas expressões
faciais. Definitivamente são dois dos melhores atores dessa geração e se saem bem
como dançarinos e cantores, é claro que não são nenhum Fred Astaire e Ginger
Rogers, mas nota-se o esforço do aprendizado e eles executam bem todos seus
números. E Por falar nas danças há ótimos números aqui, tanto os minimalistas
focados nos dois quanto os feitos em plano aberto como o primeiro da primeira
musica onde acontece em meio ao transito caótico de Los Angeles. Inclusive essa
primeira musica é uma das minhas preferidas, toda a trilha sonora é
maravilhosa, remete aos antigos musicais, e não espere musicas com as batidas
que nós jovens estamos acostumados, ele faz jus as canções próprias de
musicais.
Outro
atrativo são as homenagens aos filmes antigos, não apenas do seu gênero, mas em
geral, até juventude transviada filme de James Dean é citado, quem gosta de
filmes clássicos se farta de tanta referencia.
A
fotografia colorida e alegre do filme também é um atrativo, o rosa, o roxo e o
azul escuro são cores muito utilizadas e casam perfeitamente com os objetos em
cena e com as tomadas externas, tanto da vista panorâmica (e linda) de Los
Angeles onde eles executam o numero de dança da musica A Lovely Night, (uma das
melhores cenas) inclusive o pôster do filme é originado dela, a cena do píer
onde Ryan canta City of Stars e a no planetário. Todas estonteante. Em uma das
cenas o roxo da bolsa de Mia combina com as lixeiras por onde ela passa.
Percebe-se o cuidado da direção de arte e do figurino que também é encantador.
A
direção de Damien Chazelle é invejável já que ele é um rapaz com seus 30 e
poucos anos e faz um excelente trabalho, como aconteceu em seu filme anterior
Wiplash, que também foi bastante premiado, assim como esse que ganhou em todas
as categorias do Globo de ouro em que concorreu e está liderando no numero de
indicações a outros prêmios, provavelmente ganhará vários Oscars.
La
La land é um retorno ao gênero que tanto aprecio, ele celebra e enaltece os
musicais e os clássicos que os mais nostálgicos assim como eu amam. É um filme
com ritmo lento, mas que te hipnotiza, não recomendo para todos, apenas para os
que realmente gostam desse estilo de filme. E as cenas musicais fluem muito
bem, não há nenhuma musica intrusa. Com belas imagens, excelentes atuações
(inclusive de um ator de Wiplash como participação especial) e competente
direção e roteiro. Damien disse ser um fã dos musicais e sua paixão é bem
evidente aqui. Assim como o personagem de Ryan lutava para que o Jazz não
morresse ainda há fãs como Damien que lutam para que o gênero musical não morra,
o esforço de Sebastian é uma analogia clara aos musicais, ao jazz em si e ao
cinema de terra que hoje são pouco encontrados, pois só há cinemas em shoppings
e a maioria das pessoas vai para passar o tempo e não apreciar o filme em si, o
que desvaloriza o cinema como arte.
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